Nos últimos 12 anos, David O. Russell chegou ao auge da carreira. Depois de alguns filmes elogiados que passaram despercebidos por volta da década de 1990 e 2000, os anos de 2010 foram bem frutíferos para o diretor nova-iorquino.

“O Vencedor” (2010), “O Lado Bom da Vida” (2012), “Trapaça” (2013) e “Joy” (2015), colocaram o seu nome no radar para grandes produções, orçamentos milionários e muitas indicações ao Oscar. E, claro, a reunião de astros e estrelas de Hollywood para chamar a atenção do público e crítica.

Sua nova megalomania, “Amsterdam” não foge à regra e reuniu um seleto grupo talentoso nessa comédia irônica inspirada em fatos reais: Christian Bale, Margot Robbie, John David Washington, Robert De Niro, Rami Malek, Chris Rock, Anya Taylor-Joy, Zoe Saldaña, Mike Myers, Michael Shannon, Matthias Schoenaerts, Andrea Riseborough, Timothy Olyphant e Taylor Swift.

Nomes pomposos não garantem um bom roteiro e a história está aí para quem quiser saber. Russell é o tipo de diretor bem-intencionado e perspicaz, mas, ainda assim, comete um erro terrível que, nessa altura do campeonato é imperdoável: se garantir através do seu elenco. “Amsterdam” é mais um aglomerado de situações excêntricas, propositalmente bagunçadas na falsa simetria de um filme descolado rendendo bons momentos que, em um contexto geral, deixa muito a desejar.

MUITA ESTÉTICA PARA POUCO CONTEÚDO

Inspirado em fatos reais, o longa conta a história de três amigos vividos por Bale, Robbie e Washington, que se veem inseridos em uma conspiração: os dois homens, veteranos de guerra, tem que provar a sua inocência após serem acusados de matar uma moça e, ao mesmo tempo, descobrem a ascensão do fascismo nos EUA na década 1930 (o que realmente aconteceu). Para isso, eles buscam de muitos artifícios e trapalhadas para exterminar o inimigo iminente.

A excentricidade envernizada em uma comédia de erros e com diálogos irônicos e longos pode ter funcionado em “Trapaça”, por exemplo, mas, aqui, soa repetitivo. Russell usa dos mesmos mecanismos de um enredo mirabolante recheado de fillers se baseando unicamente no seu elenco com tiques e trejeitos (alô, Malek!). O humor ácido, os diálogos e todo estilo narrativo de uma história recheada de sobressaltos, se comparado aos irmãos Coen, Tarantino e Scorsese, aqui, parece brincadeira de um iniciante.

Se “Amsterdam” peca pelo roteiro e montagem duvidosos, o mesmo não se pode falar da deslumbrante fotografia de Emmanuel Lubezki, uma referência do ramo. Direção de arte e figurinos, chamam a atenção e até mascaram a ausência de um roteiro mais profundo e menos frenético (frenético aqui não quer dizer habilidoso). O elenco vai bem, destaque para Bale em mais um dos seus tipos peculiares.

“Amsterdam” foi concebido para ser um filme grandioso, entretanto, a sua grandeza é puramente estética. Estilo é algo genuíno se não tem não adianta forçar e Russell vem tentando imprimir uma assinatura que, na teoria, é uma coisa e na prática é outra. Como diretor ele seria um ótimo diretor de elenco.