María é uma forasteira. Nunca há um pertencimento total dela em “Castanho”, curta dirigido por Adanilo, o amazonense que tem feito história no audiovisual brasileiro com importantes participações na frente das câmeras. Atrás delas, ele é igualmente visceral, ainda que em um trabalho tão galgado em uma quietude quanto este.  

São os sons da vida que pulsam em “Castanho”: as águas, o verde, os animais, as conversas corriqueiras, a comida. Ao mesmo tempo, eles são o desconhecido para a protagonista vivida por Sofia Sahakian.  

Em seus menos de 20 minutos, o filme não está interessado em nos responder ou explicar o que ela faz exatamente na Cachoeira do Castanho e qual sua relação com os personagens de Israel Castro e Rosa Malagueta. A força das imagens é o suficiente para que o filme de Adanilo arrebate o espectador, que é confrontado o tempo todo com a morte. É quietude, mas uma quietude ansiosa.  

Entre o tapuru que se alimenta do fim de outro animal, a floresta que supostamente engole uma personagem e os jacarés que “impedem” (ênfase nas aspas) um simples nadar, o concreto é a cobra que morre pelas rodas de um veículo qualquer. A ameaça, no fim das contas, vem de fora, assim como a estrada que invade a vegetação. E, no meio disso tudo, uma estranha que se esbalda ao ouvir uma música que não é um “forrozão”.  

Enquanto isso, a vida ali passa, e quem está de passagem “se passa”, como diria o personagem de Israel. Como nos filmes que moldaram a história do cinema, em “Castanho”, somos também estranhos, convidados a olhar e a nos perceber em sentimentos tão universais, ainda que com o distanciamento que cabe a cada um.