Novo fenômeno literário teen, John Green chegou aos cinemas com “A Culpa é das Estrelas”. E pode-se dizer que a estreia foi positiva: o filme conseguia desenvolver bem o casal principal e suas relações com os demais personagens, indo além da pobreza narrativa da saga “Crepúsculo” e da sacarina dos romances de Nicholas Sparks. Verdade seja dita que muito do sucesso residia no carisma e talento da ótima dupla Shailene Woodley e Ansel Elgort.

A segunda adaptação para os cinemas da obra de John Green, “Cidades de Papel” traz uma receita parecida de “A Culpa é das Estrelas”. Porém, peca na execução calculada para obter os efeitos do filme anterior e na escolha do fraco elenco.

Cara Delevingne como Margo Roth Spiegelman em Cidades de PapelSe “A Culpa é das Estrelas” lembrava o açucarado “Love Story”, “Cidades de Papel” traz a inspiração nas comédias românticas clássicas em que um jovem idealiza a vizinha como a deusa na Terra ou, como diz Quentin (Nat Wolff), o milagre da vida dele chama-se Margo Roth Spiegelman (Cara Delevingne), garota que resolve um dia sumir após uma briga com o namorado, intrigando a todos, especialmente o protagonista, que resolve sair em uma jornada, ao lado dos amigos, para encontrá-la.

Com quase toda equipe de “A Culpa é das Estrelas” envolvida no projeto, incluindo a dupla de roteiristas Scott Neustadter e Michael H. Weber, não havia como “Cidades de Papel” não ter resquícios do filme de 2014. As duas histórias, aliás, trazem características semelhantes: protagonistas deslocados da sociedade com parceiros a tiracolo capazes de ajudar nesse processo, viagens importantes e decisivas para os rumos deles no meio do caminho e uma reviravolta longe de corresponder à expectativa do público.

Dentro desse contexto é que reside o maior problema de “Cidades de Papel”. Apesar da trama ser mais leve do que “A Culpa é das Estrelas”, há uma constante sensação de déjà vu por sabermos para quais caminhos a história vai te levar. Isso se fortalece pelo fato de não ser uma trama das mais originais e possuir personagens clichês – mesmo proporcionando bons momentos como, por exemplo, ao cantar a música-tema de “Pokémon”, a dupla de amigos nerds parece saída de “The Big Bang Theory” ou qualquer comédia adolescente dos anos 80.

“Cidades de Papel” ainda conta com um elenco muito fraco para dar força à trama. Nat Wolff, por exemplo, até chega a ser um cara simpático, gente boa, mas não possui carisma suficiente para levar o público a torcer por ele do início ao fim. Não é à toa que quando Ansel Elgort faz uma breve aparição, suspiros são soltos na sala de cinema.

Cara Delevingne é um gelo: somente é possível acreditar que o protagonista esteja apaixonado por ela pelo fato da história ser contada em primeira pessoa, pois o trabalho da atriz é de uma apatia embaraçosa sem capacidade de transmitir qualquer emoção, confiando apenas na beleza dos olhos azuis. Enquanto Austin Abrams e Justice Smith, intérpretes dos amigos do protagonista, encaixam bem nos seus respectivos tipos, Halston Sage consegue ser a personagem feminina menos pior.

Trazendo uma trilha sonora típica de filmes adolescentes com muita música indie, “Cidades de Papel” até deixa uma boa impressão com o final fora do esperado. Porém, até chegar lá, não possui a força para ser nem algo semelhante às produções divertidas e maduras de John Hughes tampouco alcança a sensibilidade de “A Culpa é das Estrelas”. Se está longe do desastre absoluto, o filme também passa distante do acerto supremo.