Às vezes, o cinema comercial e as plateias que o consomem são impiedosos. Tomemos o caso deste Dungeons and Dragons: Honra Entre Rebeldes: um filme de fantasia/aventura com um sabor de Sessão da Tarde. Um filme agradável, divertido, com lampejos criativos e com óbvia inspiração em sucessos como Piratas do Caribe, Guardiões da Galáxia e de uma pitada de Shrek.

Mas passou batido nas bilheterias, por um motivo ou outro. Cansaço do público? O estúdio não soube vender? Bem, que os analistas pagos para isso façam um estudo de caso e determinem o que aconteceu. O fato, porém, é que, sim, ele merecia uma sorte um pouco melhor.

Não que seja lá uma maravilha ou que vá se tornar um marco no gênero fantasia, mas, quando lembramos que os últimos Piratas do Caribe arrebentaram nas bilheterias, mesmo sendo umas porcarias quase completas, não dá para deixar de ficar um pouco triste com o destino deste projeto.

 AVENTURA COM CARA DOS ANOS 1980

Baseado no Dungeons and Dragons, o mais popular jogo de RPG da história, e que também inspirou o desenho Caverna do Dragão dos anos 1980, muito popular no Brasil, este Honra Entre Ladrões traz o sempre confiável Chris Pine como Edgin, um aventureiro em uma terra fantástica que precisa reunir aliados para recuperar a filha e, talvez, ressuscitar a esposa usando um artefato mágico. Junto com ele, estão Holga (Michelle Rodriguez), a heroína fisicamente capaz; Simon (Justin Jesse Smith), um jovem mago inseguro dos seus poderes; e Doric (Sophia Mills), que consegue se transformar em animais. Eles enfrentam o trapaceiro Forge (Hugh Grant, se divertindo), magos sombrios e vários perigos, muitos deles elementos do jogo.

A dupla de diretores Jonathan Goldstein e John Francis Daley já roteirizaram e dirigiram comédias, e até trabalharam para a Marvel, em Homem-Aranha: De Volta para Casa (2017). Percebe-se a leveza que tem faltado em produções blockbusters nos últimos anos: a história flui, muitos dos diálogos e situações são espirituosos, e o roteiro, embora não traga realmente nada de novo, é bem estruturado e sólido, com os personagens apresentando boas motivações e com cada um deles sendo bem utilizado dentro da história. Contribui para isso, também, o entrosamento e a química entre os atores que constituem o grupo de heróis.

Os diretores e sua equipe de efeitos visuais até criam alguns momentos de verdadeira criatividade visual, quase como de filmes animados: há um plano-sequência incrível no qual vemos Doric se transformando em diferentes animais para escapar dos seus perseguidores, e uma cena envolvendo um portal e uma carruagem que traz sorrisos ao espectador, justamente pela inventividade visual. E perto do final, o longa até traz uma curiosa referência ao Caverna do Dragão, durante a fuga dos heróis por um labirinto.

ARMADILHAS MARVEL NÃO ATRAPALHAM

Embora seja um filme que lembre, em tom e narrativa, alguns sucessos dos anos 1980, o que impede Honra Entre Rebeldes de ser melhor é justamente quando ele adere à cartilha dos blockbusters de hoje: com 2h15, acaba sendo mais longo do que precisava ser e o ritmo às vezes oscila; e alguns momentos de humor parece que estão lá apenas porque é o que a plateia se acostumou a ver depois de anos de produções da Marvel.

Ainda assim, Dungeons and Dragons: Honra Entre Rebeldes tem como seus trunfos a criatividade no visual e na história – acaba sendo uma mescla de fantasia com filme de roubo – e o fato de compreender que a chave para um filme assim é não se levar muito a sério. Infelizmente, o público não compareceu, mas em uma nota pessoal, acredito que o bom filme uma hora é descoberto, ou redescoberto.

O personagem de Pine se mostra bastante otimista ao longo da história, sempre acreditando nos colegas mesmo quando eles não estão sem esperança, e tem sempre um plano improvisado na manga. Hollywood também é otimista: No começo dos anos 2000, já houve outro filme de Dungeons and Dragons, execrado pela crítica, e com certeza daqui a uns anos outro virá – talvez uma adaptação do próprio Caverna do Dragão? O estúdio perdeu a chance de fazer isso aqui?

São perguntas que ficam ao final da sessão. Mas não adianta julgar o filme que poderia ser, apenas o que existe, e neste caso, só podemos lamentar pelo fato de que produções como Dungeons and Dragons: Honra Entre Rebeldes hoje sejam a exceção, e não a regra.