“Game of Thrones” tinha a tradição de que o ápice da temporada cabia ao penúltimo episódio, enquanto o derradeiro capítulo de cada ano trazia um certo anticlímax, mas, sempre capaz de despertar a curiosidade para o que viria a seguir. Como não poderia deixar de ser, “House of the Dragon” segue a sina, porém, mantendo a personalidade da série e com direito a uma grande cena de ação. 

Para quem esperava a guerra já desenhada com dragões rasgando os céus de King´s Landing e o embate entre Rhaenyra Targaryen e Alicent Hightower após o golpe que levou Aegon ao poder, se decepcionou bonito. O capítulo focou na reação da filha de Viserys, os sacrifícios dela, as estratégias de apoio e as consequências de um iminente confronto. Tudo isso regado a pequenos detalhes, quase sempre colocados em olhares poderosos, que tornam a experiência de “House of the Dragon” para lá de interessante. 

Definida como a sucessora de Viserys ainda adolescente, Rhaenyra conhece aqui definitivamente os sacrifícios da posição que ocupa (ou que pretende ocupar) da pior forma. Logo de cara, recebe a notícia da morte do pai e da traição que sofrera daquela que um dia já fora sua melhor amiga, resultando em um agoniante parto prematuro que termina em uma poça de sangue e o bebê morto. A crueldade do momento a impede de sequer ter um luto duplo, afinal, a reação a Alicent e Aegon se faz urgente.  

Entre as estratégias e alianças pensadas diante do novo cenário somada a uma coroação clandestina feita às pressas, Rhaenyra surpreende pela decisão racional de evitar simplesmente sair com dragões rumo a King´s Landing e destruir tudo que visse pela frente, como sugere Daemon. O senso de responsabilidade dela, agora, uma rainha de seu povo, pode até frustrar quem espera sangue, mas, mostra a grandeza que se espera de um líder – algo tão em falta atualmente neste país, diga-se – e um respeito ao legado do próprio pai.  

Nota-se, inclusive, ainda um carinho inesperado a Alicent: ok, aquela página do livro ligado à adolescência das duas soa uma forçada de barra, mas, não deixa de ser curioso notar como elas percebem que poderiam ser grandes aliadas não fosse o jogo de poder e a desconfiança constante sobre mulheres naquela posição. Falando em personagens femininos, inevitável citar a grandiosa Rhaenys que, após ter tido a coragem de desafiar o novo rei Aegon na própria cerimônia de coroação, firmou posição ao lado de Rhaenyra, sendo a principal responsável da chance da filha Viseyrs chegar ao poder. Justo o posto que o machismo dos Sete Reinos a impediu de alcançar. Não se curvar na coroação passou longe de ser um desrespeito à monarca e sim um reconhecimento à própria jornada reconhecida pela nova rainha. 

QUE A GUERRA COMECE

O anticlímax do episódio fica menor na tensa sequência final com o confronto entre os dragões de Lucerys e Aemond. Que já era previsto o filho de Alicent se vingar por conta do olho perdido não era novidade, afinal, ele nunca escondeu o ódio pelo ocorrido, porém, a circunstância e o tamanho do estrago foram além do que ele mesmo imaginara. E a direção de Greg Yaitanes (também responsável pelo segundo e terceiro episódios da temporada) consegue dar a dimensão épica do combate seja na grandiosidade dos dragões, na chuva e no sol, nas montanhas e terminando no olhar de susto de Aemond com a besteira que acabara de fazer. 

Para quem é ansioso, “House of the Dragon” termina da pior forma possível, pois, cria uma expectativa imensa para os novos episódios – previstos somente para 2024 – e uma batalha sem misericórdia entre Alicent e Rhaenyra. Fruto de uma temporada inteligente focada em personagens que fugiram de definições maniqueístas e capaz de se desvencilhar da sombra pesada de “Game of Thrones”.