Ela espera à beira da estrada após o trabalho. Ele chega em uma Kombi caindo aos pedaços. Oferece uma carona. Os dois já se conhecem, os sorrisos não mentem.

Dentro do carro, rola um clima ou a indicação de que deveria haver um clima. Ele coloca umas canções no rádio. Ela ri. Mas algo parece off.

Por quê? Algumas respostas podem ser ensaiadas. Chega-se mesmo a pensar se tratar de uma simples questão de falta de química entre os atores Elder Torres e Ítala Raíssa. Ou talvez o problema seja o ritmo cadenciado que o diretor Ricardo Chetuan pede de seus performers: eles parecem sempre um pouquinho fora do tempo.

Talvez seja ainda o modo como a correção de cor do filme, com suas sutis distorções do azul do céu, do amarelo do sol e do vermelho da terra, ressalta o digital da imagem. O caso é que o curta “Ao Lado da Estrada” parece se situar numa espécie de naturalismo artificial, e não por querer.

Isso até a revelação final, quando já está claro que o caso de nossos protagonistas é um daqueles que os poetas tanto gostam: um amor impossível. Enquadrada pela moldura da janela de casa, nós a vemos cortando mecanicamente os alimentos na cozinha, e colocamos tudo o que vimos até então em perspectiva.

Talvez, apenas talvez, isso que sinalizei como off fosse o diretor indicando sutilmente para a plateia a impossibilidade daquele amor. Isso poderia explicar sua tendência em enquadrar seus personagens com um pouquinho mais de espaço negativo do que estaríamos acostumados, como se eles estivessem sempre deslocados.

Pode ser. Mas é mais provável que o diretor tenha tropeçado e caído em pé. E não é verdade que os melhores filmes nascem do acaso?

Em se tratando de luz, de cor e de som, Ricardo Chetuan tem um bom arsenal à disposição. Ele só não sabe muito bem a hora de usá-lo.