Construído a partir de diferentes histórias aparentemente desconexas, “Maputo Nakuzandza” apresenta fragmentos de um bom filme, mas nunca consegue chegar ao máximo potencial.

Filmado em Moçambique, somos apresentados a cinco histórias que desenvolvem-se paralelamente: um homem correndo pela cidade, uma mulher chegando de viagem, um turista passeando, um homem no transporte público e uma noiva fugitiva. O nome da obra refere-se a uma rádio que nos dá informações sobre o paradeiro da noiva durante a obra.

Há uma tentativa de diálogo com a literatura em “Maputo Nakuzandza”, uma busca por uma poesia que paira pela cidade de Maputo, capital moçambicana. As histórias desconexas nos oferecem pratos cheios para diversas interpretações, e possíveis relações, não postas para serem objetivamente descobertas, mas no intuito de expandir a narrativa.

Em certo momento, a partir de uma conversa entre o turista e um morador, temos referências a destacados escritores do país, além das poesias proclamadas nas rádios. Além disso, ao longo da obra, somos subitamente introduzidos a performances de dança, quase alcançando um filme surrealista. A beleza que o filme busca atingir a partir desse diálogo com a arte escrita, porém, executa-se como um instrumento bem afinado, mas monótono.

Não criamos uma relação com as personagens e seus conflitos, o que não seria um problema caso fôssemos imergidos pelas imagens construídas e o onirismo do filme fosse mais tocante. Para longe de um filme pobre, “Maputo Nakuzandza” concretiza-se como um filme frio, um sonho com pequenos belos momentos, mas rapidamente esquecido.

A cidade, ponto importante para a obra, também parece sempre distante, intocável para seus cidadãos protagonistas da obra. Caso ela se apresentasse como um lugar hostil, com planos que mostrassem uma Maputo decrépita, até poderíamos relacionar  com a certa apatia que toma conta das personagens. Mas tudo no filme busca o belo, o intangível, apostado em uma direção de arte que encanta sozinha, sem comover.

Há uma boa intenção desperdiçada a cada sequência. O equilíbrio entre narrativa e estética nunca é procurado, e sozinhos nenhum dos dois oferece muita coisa. Terminamos a obra sem passar por nenhuma grande situação com as personagens, sem vê-las minimamente alcançar um pouco da poesia declamada na rádio Maputo Nakuzandza.

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