Nós crescemos ouvindo isso: “as crianças são o futuro”. Mas, em que momento esse futuro chega e se torna passado? No novo filme de Mike Mills, os tempos se fundem em forma de dois personagens que vão além da representação do choque geracional. “Sempre em Frente” é mais pergunta do que resposta, e por ele resvala a beleza da arte, de ser e de propor uma conversa a ser continuada vida afora.

Primeiro trabalho de Mills nas telonas desde “Mulheres do Século 20”, este filme é basicamente focado em dois personagens, Johnny (Joaquin Phoenix) e Jesse (Woody Norman). Após uma viagem da mãe, Viv (Gaby Hoffmann), o mais novo fica sob os cuidados do tio, um documentarista solitário. Johnny continua a trabalhar e se vê às voltas com o universo de uma criança que não conhece tão bem assim.

E, para adentrar o universo de Jesse, Johnny primeiro o apresenta ao seu. Os mais velhos antes, né. A dupla passeia por cidades cujas turvações são expressas visualmente, com uma fotografia em preto e branco que parece deixá-las estáticas, mas ao mesmo tempo, sempre com nuvens de incerteza pairando. Detroit, Nova Iorque, Los Angeles e Nova Orleans nos são apresentadas de forma seca, quase como se fôssemos os olhos já cansados de Johnny. Chega até a ser irônico que ele indague, logo de cara, como serão as cidades e a natureza no futuro.

“Como você imagina o futuro?”

A dualidade do personagem defendido por Phoenix é o ponto de apoio do filme. Ele entrevista crianças e adolescentes, mas não consegue se comunicar com o sobrinho. Quando o faz, se vê entre o real e a imaginação, como na cena em que conta para ele sobre a ex, e o faz ao mesmo tempo em que lê “O Mágico de Oz” para o menino.

O filme nos lembra o tempo todo de como esses caminhos podem se entrelaçar, já que até o pequeno Jessie fala em determinado momento que a mãe escreve ficção ou não ficção e, antes, que ela contava para ele histórias reais ou não. A ironia não é sentida por Johnny, que diz não saber contar histórias. “Podemos apenas conversar e nos conhecer?”, indaga, com um toque de cinismo.

Assim como fez com “Toda Forma de Amor” e “Mulheres do Século 20”, Mills continua a examinar com sensibilidade as relações humanas e o conceito de família. Em “Sempre em frente”, é Jessie que oferece a lição mais preciosa a Johnny. Com uma sinceridade cortante, o menino confronta e contorna o tio, e se torna o guia do espectador na estrada de tijolos e árvores em P&B que leva o mais velho a viver a ilusão dentro do real.

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