Em “Adar”, este terceiro episódio de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, temos uma visão sobre comunidades da Terra-média. É um episódio que amplia a tapeçaria da série, coloca em movimento algumas subtramas e noções interessantes e representa mais um acerto da produção até aqui.

Também se trata de um episódio sobre pais. “Adar” significa pai, em élfico. Sim, eu chequei.

Primeiro, Galadriel: ela e Halbrand (Charlie Vickers) saem do oceano para o reino humano de Númenor – trazido da imaginação e descrições de Tolkien direto para a tela do espectador, com todo o esplendor que a computação gráfica de ponta e o orçamento de Os Anéis de Poder puderam viabilizar. Númenor é um dos momentos da produção onde vemos que o dinheiro do Jeff Bezos foi bem gasto e simplesmente não há paralelo na TV ou no streaming modernos.

Galadriel e Halbrand são recebidos friamente pela rainha Míriel (Cynthia Addai-Robinson), que lá pelo final do episódio tem uma conversa enigmática com seu pai – algo que certamente renderá mais à frente. E descobrimos a identidade do capitão que os salvou: é o Elendil (Lloyd Owen), aquele mesmo que é pai de Isildur (Max Baldry). Isildur será uma figura muito importante no conflito vindouro e na trajetória do Um Anel, então, sua apresentação aqui, como um jovem sonhador em conflito com seu pai austero, faz sentido do ponto de vista dramático.

Duas coisas, no entanto, prejudicam um pouco o episódio neste segmento: Galadriel usa muito diálogo expositivo para explicar o novo cenário da série e também um desenvolvimento um pouco inesperado envolvendo Halbrand ao final. Talvez seja um mal necessário para Os Anéis de Poder, afinal contar a longa história da Terra-média foi complicado até para os filmes. Ainda assim, os filmes geralmente conseguiram achar soluções que não dependeram tanto da exposição pura e simples. E a cena de luta de Halbrand parece mais algo de Game of Thrones, violenta e com o personagem quase dando uma de John Wick. Bem, em um cenário pós-Thrones, talvez fosse mesmo esperado que Os Anéis de Poder acabasse sendo um seriado mais violento. Em uma nota pessoal, preciso dizer que vou demorar a me acostumar a isso.

Ainda assim…

Merece aplausos a cena de Galadriel com um sorriso gigantesco enquanto viaja a cavalo a caminho da biblioteca, acompanhada de Elendil. A expressão de Morfydd Clark, em mais um instante de performance memorável, a trilha musical e a fotografia que mostra a paisagem neozelandesa esplendorosa rendem um momento de força imagética real para Os Anéis de Poder. A heroína pode ser movida por vingança, mas isso não quer dizer que não se divirta um pouco. 

No front dos pré-Hobbits, temos um pouco de humor e de tensão com a migração do povo e o drama envolvendo Nori e Poppy tentando manter o Estranho em segredo. A identidade desse personagem começa a parecer um pouco óbvia… Mas os atores estão comprometidos e garantem o investimento. Veremos para onde isso vai. E temos aqui mais um conflito entre pai e filha, no caso entre Nori e Largo.

O subtexto envolvendo pai adquire tons sinistros na outra subtrama do episódio: Arondil e seu suplício após ser capturado no anterior. Através dessa subtrama, conhecemos os Orcs, que continuam bem no padrão dos filmes do Peter Jackson: feios, sujos e malvados. Uma tentativa de fuga dos elfos rende a outra grande cena de ação do episódio, e quanto a esta não pode haver reclamações: Arondil usa correntes, corre, pula e mata orcs para tentar escapar. Mais um momento de grande espetáculo, muito bem encenado pelo diretor Wayne Yip e sua equipe.

Ao final do episódio, aos gritos de Adar, ficamos na expectativa por mais um pai aparecer. E expectativa é a palavra-chave: até agora, Os Anéis do Poder tem criado alguma ansiedade pelo próximo episódio. E este é o primeiro requisito de qualquer série.

Obs: A espada que Elendil recebe é a Narsil? A Espada-que-foi-quebrada? Diz que sim, série.