Ang Lee, diretor de “O Segredo de Brokeback Mountain” e “As Aventuras de Pi”. 

Will Smith em dose dupla, astro dos mais populares de Hollywood. 

Filmagem em 120 frames por segundo, um avanço tecnológico espetacular. 

Todos estes fatores levam “Projeto Gemini” a ser aquele tipo de produção de Hollywood com tudo a seu favor para ser um projeto de sucesso. Isso se intensifica ainda mais com uma enorme publicidade ao redor do filme. Pode até ser que o blockbuster agrade o espectador menos exigente, porém, para uma obra tão promissora, o resultado é, no mínimo, decepcionante. 

“Projeto Gemini” inicia quando o veterano assassino de elite, Henry Brogan (Will Smith), passa a ser caçado por Junior, um clone dele mais novo. Entretanto, ao perceber a semelhança do rapaz consigo, Henry decide descobrir as motivações de tal perseguição e salvar Júnior da influência de Clay Verris (Clive Owen), chefe e treinador de ambos. 

Para fazer esta dinâmica funcionar, o roteiro explora as relações humanas dos dois personagens, aprofundando suas histórias antes das grandes cenas de ação tomarem conta da tela. Assim, seus maiores medos, trajetórias e arrependimentos são explicados consecutivas vezes. Este cuidado em contextualizar a trama, porém, cansa pela repetição de informações a ponto de transformar “Projeto Gemini” em uma obra previsível. 

Se a dobradinha de Will Smith é cuidadosamente desenvolvida, os personagens secundários são restritos a espectadores da história. Baron (Benedict Wong) se torna um Uber aéreo particular de Henry, lhe carregando de um continente ao outro. Já Danny Zakarweski (Mary Elizabeth Winstead), que parecia ser promissora em sua primeira cena de ação, não demora muito para se tornar a personagem feminina que é feita de isca, tem uma cena seminua e um final mal desenvolvido. 

QUASE UM VIDEOGAME

Com um grau maior de interação do que apenas uma troca de tiros, a dinâmica entre Henry e Will consegue potencializar todo conflito nas cenas de ação. Esses momentos, inclusive, são pensados de forma inteligente: cada uma das três apoteoses de ação possui um ritmo e visual diferente, seja com movimentos extremos ou muito rápidos. Isso salienta a captação feita por Ang Lee em 120 frames por segundo, dando uma impressão vista nos games. 

É claro que existe uma grande preocupação com os efeitos visuais do filme, porém somente até certo ponto (vide a última cena). Toda caracterização facial de Junior consegue ser bem-feita, fator sustentado por sua personalidade quase robótica, criando uma grande sintonia entre as expressões mais moderadas e a postura do personagem. Mesmo com limitações notórias, o rosto do “jovem Will” não se torna um grande problema, afinal, se ele não conseguisse convencer o público mesmo que em poucos momentos, toda proposta do filme seria arruinada. 

Ang Lee consegue entregar um filme equilibrado, o qual poderia ser extremamente grandioso, mas que deve ser esquecido até o próximo grande lançamento de ação. ‘Projeto Gemini’ ainda tem o benefício de uma boa atuação do protagonista, uma ótima mixagem de som e o esforço de seus efeitos visuais, o que infelizmente não lhe deixa escapar de uma trama previsível. 

CRÍTICA | ‘Deadpool & Wolverine’: filme careta fingindo ser ousado

Assistir “Deadpool & Wolverine” me fez lembrar da minha bisavó. Convivi com Dona Leontina, nascida no início do século XX antes mesmo do naufrágio do Titanic, até os meus 12, 13 anos. Minha brincadeira preferida com ela era soltar um sonoro palavrão do nada....

CRÍTICA | ‘O Sequestro do Papa’: monotonia domina história chocante da Igreja Católica

Marco Bellochio sempre foi um diretor de uma nota só. Isso não é necessariamente um problema, como Tom Jobim já nos ensinou. Pegue “O Monstro na Primeira Página”, de 1972, por exemplo: acusar o diretor de ser maniqueísta no seu modo de condenar as táticas...

CRÍTICA | ‘A Filha do Pescador’: a dura travessia pela reconexão dos afetos

Quanto vale o preço de um perdão, aceitação e redescoberta? Para Edgar De Luque Jácome bastam apenas 80 minutos. Estreando na direção, o colombiano submerge na relação entre pai e filha, preconceitos e destemperança em “A Filha do Pescador”. Totalmente ilhado no seu...

CRÍTICA | ‘Tudo em Família’: é ruim, mas, é bom

Adoro esse ofício de “crítico”, coloco em aspas porque me parece algo muito pomposo, quase elitista e não gosto de estar nesta posição. Encaro como um trabalho prazeroso, apesar das bombas que somos obrigados a ver e tentar elaborar algo que se aproveite. Em alguns...

CRÍTICA | ‘Megalópolis’: no cinema de Coppola, o fim é apenas um detalhe

Se ser artista é contrariar o tempo, quem melhor para falar sobre isso do que Francis Ford Coppola? É tentador não jogar a palavra “megalomaníaco” em um texto sobre "Megalópolis". Sim, é uma aliteração irresistível, mas que não arranha nem a superfície da reflexão de...

CRÍTICA | ‘Twisters’: senso de perigo cresce em sequência superior ao original

Quando, logo na primeira cena, um tornado começa a matar, um a um, a equipe de adolescentes metidos a cientistas comandada por Kate (Daisy Edgar-Jones) como um vilão de filme slasher, fica claro que estamos diante de algo diferente do “Twister” de 1996. Leia-se: um...

CRÍTICA | ‘In a Violent Nature’: tentativa (quase) boa de desconstrução do Slasher

O slasher é um dos subgêneros mais fáceis de se identificar dentro do cinema de terror. Caracterizado por um assassino geralmente mascarado que persegue e mata suas vítimas, frequentemente adolescentes ou jovens adultos, esses filmes seguem uma fórmula bem definida....

CRÍTICA | ‘MaXXXine’: mais estilo que substância

A atriz Mia Goth e o diretor Ti West estabeleceram uma daquelas parcerias especiais e incríveis do cinema quando fizeram X: A Marca da Morte (2021): o que era para ser um terror despretensioso que homenagearia o cinema slasher e também o seu primo mal visto, o pornô,...

CRÍTICA | ‘Salão de baile’: documentário enciclopédico sobre Ballroom transcende padrão pelo conteúdo

Documentários tradicionais e que se fazem de entrevistas alternadas com imagens de arquivo ou de preenchimento sobre o tema normalmente resultam em experiências repetitivas, monótonas e desinteressantes. Mas como a regra principal do cinema é: não tem regra. Salão de...

CRÍTICA | ‘Geração Ciborgue’ e a desconexão social de uma geração

Kai cria um implante externo na têmpora que permite, por vibrações e por uma conexão a sensores de órbita, “ouvir” cada raio cósmico e tempestade solar que atinge o planeta Terra. Ao seu lado, outros tem aparatos similares que permitem a conversão de cor em som. De...