Retrato maduro sobre os perigos da decepção, “Quem Você Pensa que Sou” é um thriller repleto de pistas falsas ancorado em uma sensual e comprometida performance de Juliette Binoche.  A partir da história de uma pessoa que mantém um relacionamento online através de um perfil falso, o mais novo filme de da Safy Nebbou veste muitas máscaras e se disfarça constantemente à vista de todos, servindo como um tratado sobre os efeitos da idade e uma reflexão de traumas profundos. 

Binoche interpreta Claire, uma professora de meia idade que está tentando juntar as peças e seguir em frente depois de um complicado divórcio. Para tanto, ela inicia breves relacionamentos com homens mais jovens e emocionalmente indisponíveis, como Ludo (Guillaume Gouix). Ele pode até oferecer, mas, nega a ela a intimidade que tanto deseja. 

Na tentativa de espioná-lo, ela cria um perfil falso no Facebook e finge ser Clara, de 24 anos. Nisso, ela se aproxima do amigo de Ludo, Alex (François Civil). Tudo parece divertido até que eles aproximam perigosamente e a vida de Claire começa a ser ditada pelo affair de seu eu ficcional. 

O ponto de partida da trama, adaptação feita pela própria Nebbou a partir do romance escrito por Camille Laurens, é destemido ao descrever uma mulher tão impressionada com o trauma que perde a noção de sua bússola moral. Na sua dor, ela negligencia seus dois filhos, rouba a identidade de sua sobrinha e mente até um grau quase patológico para manter sua fachada digital. 

ENGRANDECEDORA UNIÃO FEMININA  

Enquanto “Quem Você Pensa que Sou” se recusa a julgá-la, ela pintou uma figura trágica, embora longe de ser uma figura completamente inocente. Através de Clara, a personagem de Binoche parece que finalmente está vivendo sua vida – contando para uma mulher que constantemente sente que está alcançando (ou passado) seu prazo de validade – mas isso tem um custo para aqueles que a rodeiam e, eventualmente, para si mesma. 

Servindo como um guia para o público e ancorando o filme está a Dra. Bormans (Nicole Garcia), uma psiquiatra substituta cujas sessões formam uma grande parte de “Quem Você Pensa que Sou”. Nebbou até dedica um longo período da segunda metade da obra a um desvio narrativo estridente, na forma de um resultado imaginário para a história, escrito por Claire e lido pela médica. 

É nessa interação entre médica e paciente que a produção encontra muita força e um de seus subtextos mais notáveis: a maneira como as mulheres se unem diante da exploração dos homens. Depois de descobrir uma informação importante sobre a história de Claire, a médica comenta: “Nós [mulheres] pensamos que somos culpadas, mas não somos”. A ressonância emocional dessas palavras, considerando o que veio antes, é de tirar o fôlego. 

Por fim, a pura expansão de “Quem Você Pensa que eu Sou” imita a mente complicada de sua protagonista. Embora possa não agradar todos os espectadores – especialmente aqueles que gostam de filmes com uma clara sensação de encerramento – é um olhar duro e impenitente para um abismo emocional que definitivamente vale a pena assistir.