“Vidas em jogo” passeia pelo suspense e ação com maestria. A obra de David Fincher, lançada há 25 anos, mantém um ritmo viciante desde o início, embora se alongue em alguns momentos.

Nicholas Von Orton (Michael Douglas) é um ricaço que possui uma vida entediante e solitária. Ele é convencido por seu irmão mais novo, Conrad (Sean Penn), a contratar os serviços de uma misteriosa empresa de entretenimento. A partir desse momento tudo muda na vida de Nicholas e o jogo onde ele se vê envolvido se torna cada vez mais perigoso.

O grande mérito de Fincher está em conduzir uma trama que se mostra a cada cena mais estranha de forma extremamente elegante. Como “Vidas em Jogo” se transforma a cada momento, desaguando em novos mistérios e apresentando novos personagens, o trabalho do diretor consiste em manter uma unidade que harmonize o filme.

APATIA COMO MOTOR

A obra se desdobra por charadas, perseguições, romance e até mesmo uma sutil crítica ao modo de vida da burguesia norte-americana. A condução firme do diretor junto a direção de arte que mantém tudo cinzento em torno do personagem, constroem um universo que reflete a personalidade desinteressante do protagonista.

Nicholas é um homem que possui tudo, herdeiro de uma família milionária que tenta conduzir com mão de ferro seus empreendimentos. Ao mesmo tempo, um homem divorciado e traumatizado com a morte do pai ainda na infância. A apatia do personagem é o motor para o desenvolvimento da trama. É a partir dela que surge o interesse pelo estranho jogo oferecido a ele.

O roteiro de John D. Brancato e Michael Ferris exagera na construção de novas situações para o personagem lidar, elevando um pouco o tempo de duração de cada nova aventura e perdendo a mão em algumas reviravoltas. Ainda assim, “Vidas em Jogo” trilha um caminho agradável, maneirando bem seus altos e baixos e momentos de respiro.

Michael Douglas encarna o protagonista com perfeição. Em seu início, um magnata insensível do mundo financeiro, exalando firmeza. Mas desde já, Douglas concede a Nicholas, a partir de seus olhares soltos e hesitações, uma fragilidade tentadora. Como se o personagem tentasse se livrar de si mesmo. As provações interpeladas ao longo da obra então, funcionam como um despertar para o bilionário, conduzindo com perfeição sua narrativa.