O clima de festa junina invadiu a Mostra de Cinema de Ouro Preto, a Cine OP, com direito a quadrilha, quentão, canjica doce e até uma fogueira de São João! E os debates, os encontros no café do centro de convenções (com direito a um pão de queijo dos deuses), as mesas voltadas para discutir educação, as provocações sobre “o que arquivar e como preservar a memória audiovisual das minorias” configuraram momentos memoráveis dessa 17ª edição, que foi deixando saudades já na metade da sua duração.

Para além dos cinemas indígenas, devidamente homenageados e presentes em diversas grades de programação nos cinemas da mostra, filmes que investigam as memórias não tão recentes, familiares e da cena gay da capital paulistana, estiveram entre os destaques.

O primeiro, “Bem Vindos de Novo”, de Marcos Yoshi é uma memorabilia de autoficção. Yoshi reencontra o pai após 13 anos sem vê-lo e vai reconstituindo passagens da vida em comum, numa tentativa de investigação audiovisual e restituição de afetos a partir de um grande acervo de imagens fotográficas e audiovisuais pré-existentes de dekasseguis que migraram para o Brasil. O filme ainda atravessa as diferenças e similaridades entre a cultura japonesa e brasileira com a família de Yoshi sendo turbulenta e amorosa, apertada pela vontade de permanecerem juntos enquanto tentaram sobreviver com o passar dos anos.

Um acervo também robusto, especialmente de fotos e filmagens em VHS de shows, são a matéria prima purpurinada de “São Paulo em Hi-Fi”, onde Lufe Steffen investiga o nascimento de uma cena LGBT em São Paulo durante os anos 60 e como, por meio das personagens, os momentos de prazer e euforia dividiram espaço com medo, preconceito e a dor pelo surgimento da AIDS. Um pouco alongado na duração e sem muito direcionamento fílmico ou uma direção que intencione algo para além de reunir testemunhos dos que viveram a época, o documentário é um registro esfuziante das casas de show que abrigaram os primeiros shows drag da cidade, das vivências de personalidades como a maquiadora Gretta Star e do dançarino Menon, além de bares redutos de gays e lésbicas como o Val Improviso, inferninho localizado no Arouche.