De Sharon Stone, em “Instinto Selvagem”, a Jim Carrey, por “O Show de Truman”, Caio Pimenta traz as 10 maiores esnobadas do Oscar nos anos 1990.
10. PAM GRIER, por “JACKIE BROWN”
“Jackie Brown” pode não ser o melhor muito menos um dos mais amados filmes do Tarantino, mas, a Pam Grier não ter sido indicada é um absurdo.
Com toda a postura agressiva e cheia de atitude de um ícone da blaxplotation, a Pam Grier é a alma de “Jackie Brown”. Igual fizera com Uma Thurman anos depois em “Kill Bill”, Tarantino deixa a câmera ficar fascinada pelo estilo de sua protagonista, criando uma heroína das mais interessantes dos anos 1990.
Pensar que a Julie Christie, pelo esquecível “O Despertar do Desejo”, foi indicada e não a Pam Grier é inexplicável. “Jackie Brown”, aliás, só foi indicado pelo saudoso Robert Foster em Melhor Ator Coadjuvante.
9. ANG LEE, de “RAZÃO E SENSIBILIDADE” e RON HOWARD, de “APOLLO 13
As indicações a Melhor Direção do Oscar 1996 foram estranhas pela ausência de dois diretores com filmes importantes na briga pelo prêmio de Melhor Filme.
Em uma temporada sem grandes favoritos, imaginava-se que a disputa ficaria entre “Coração Valente” e “Apollo 13” com “Razão e Sensiblidade” correndo por fora. Para surpresa geral, porém, Ron Howard e Ang Lee ficaram de fora da categoria de Melhor Direção perdendo a vaga para Chris Noonan, de “Babe”, e Michael Radford, de “O Carteiro e o Poeta”.
Com essas esnobadas, o caminho ficou aberto para o Mel Gibson levar o Oscar. Dos dois esnobados, eu lamento mais pelo Ang Lee que sempre adotou um estilo mais pessoal aos seus filmes do que o Ron Howard, o qual sempre segue a linha convencional.
8. SHARON STONE, por “INSTINTO SELVAGEM”
Faltou coragem para a Academia reconhecer um dos trabalhos mais marcantes em Hollywood nos anos 1990.
Em “Instinto Selvagem”, a Sharon Stone magnetiza a tela toda vez que está em cena. A sensualidade de Catherine Trammell passa longe de uma banalização gratuita da nudez para ser um jogo de dominação sobre o seu parceiro e controle da situação. A famosa cruzada de pernas é o ápice disso e entrou para a história do cinema.
A esnobada da Sharon Stone é ainda mais absurda quando a gente pega a lista das indicações ao Oscar 1993. Apesar de ter gigantes como Catherine Deneuve, Michelle Pfeffeir e Susan Sarandon, nenhuma ali esteve melhor do que a Sharon, incluindo na lista a vencedora do prêmio naquele ano, a Emma Thompson, por “Retorno a Howard´s End”.
7. JOHN TURTURRO, por “BARTON FINK”
Antes dos irmãos Coen virarem queridinhos da Academia, os dois sofreram até serem reconhecidos. Com isso, o John Turturro se deu mal em 1992 com “Barton Fink – Delírios de Hollywood”.
O ator está impagável como o personagem-título desta deliciosa comédia sobre o cinema. A produção saiu consagrada do Festival de Cannes ao levar a Palma de Ouro, além dos prêmios de Direção e ator com Turturro. No Oscar, porém, restaram três indicações em categorias menores. Inexplicável.
6. AS PONTES DE MADISON
A grande pergunta do Oscar 1996 após as indicações foi muito simples: o que diabos aconteceu com “As Pontes de Madison”:
O belo romance teve apenas uma indicação com a Meryl Streep. As esnobadas em Melhor Filme, Direção e Ator para Clint Eastwood, e Roteiro Adaptado são injustiças históricas ainda mais gritantes quando vimos nas categorias principais “Babe”, “O Carteiro e o Poeta”, e “Apollo 13”.
5. FESTA DE FAMÍLIA
Criado por Lars Von Trier e Thomas Vintenberg, o Dogma 95 foi, talvez, o último grande movimento cinematográfico já surgido. Em 1999, a Academia teve a oportunidade de reconhecê-lo, mas, resolveu ignorar.
“Festa de Família” foi o segundo longa da carreira do Vintenberg e é um dos melhores exemplares (se não, o melhor) do Dogma. Acompanhando o aniversário de 60 anos do patriarca de uma família, somos testemunhas das crises familiares repleta de mágoas.
O “Festa de Família” segue todos os preceitos do Dogma 95 com temas calcados no mundo real, sem iluminação artificial, música apenas diegética e chegou a ser indicado ao Globo de Ouro. No Oscar, porém, perdeu espaço e viu a disputa ficar restrita a “A Vida é Bela” e “Central do Brasil”.
4. MEG RYAN, por “HARRY E SALLY”
Sempre faço questão de citar o quanto eu não acho justo que atuações de filmes de comédia são esquecidos constantemente nas premiações. Se nos anos 2000, eu citei o Sacha Baron Cohen, de “Borat”, agora, eu coloco a Meg Ryan, de “Harry e Sally”.
A consolidação de Meg Ryan como uma estrela da comédia romântica veio neste excelente filme do Rob Reiner. Dos momentos de maior ternura até a inesquecível cena do café, a atriz faz um dos trabalhos mais cativantes da década.
E pensar que no Oscar 1990 quem venceu o prêmio foi a Jessica Tandy e tivemos uma série de indicadas com trabalhos muito, muito abaixo da Meg Ryan. Uma pena.
3. A ÉPOCA DA INOCÊNCIA
Os brutos também amam. Essa frase cai como uma luva para o que representa “A Época da Inocência” para o Martin Scorsese, um diretor até então conhecido de filmes estrelados por homens agressivos e repleto de violência.
Repleto de elegância e delicadeza, o filme é um dos mais bonitos feitos nos EUA na década 1990, sendo um primor no figurino e direção de arte, além, claro, de uma sofisticação narrativa com personagens extremamente complexos. Mesmo assim, “A Época da Inocência” não conseguiu espaço em Melhor Filme, Direção, Atriz com a Michelle Pfeiffer e Ator com o Daniel Day-Lewis.
Para a defesa da Academia, 1994 teve uma das melhores seleções da década com “A Lista de Schindler”, “O Piano”, “Vestígios do Dia” e “O Fugitivo”. Mesmo assim, dava para encaixar “A Época da Inocência”.
2. O SHOW DE TRUMAN
Parece uma piada daquelas do Jim Carrey, mas, “O Show de Truman” ficou no meio do caminho no Oscar 1999.
O filme do Peter Weir tinha tudo para ser indicado na categoria principal e até correr por fora na disputa pelo prêmio então dividida entre “O Resgate do Soldado Ryan” e “Shakespeare Apaixonado”. Porém, “O Show de Truman” não contava com o aparecimento de “Além da Linha Vermelha” que roubou a vaga do filme na última hora.
A esnobada no Jim Carrey em Melhor Ator foi semelhante ao ocorrido com o Leonardo DiCaprio em 1998 por “Titanic”. Para nossa sorte, o Jim Carrey é mais espirituoso e fez uma aparição incrível na cerimônia, zoando com si mesmo. Tô deixando esse vídeo lá no site do Cine Set para você ver.
1. SPIKE LEE, por “FAÇA A COISA CERTA”
A cerimônia de 1990 é uma série de absurdos, mas, a maior delas é, sem dúvida, a esnobada histórica a Spike Lee pela obra-prima “Faça a Coisa Certa”.
Se “12 Anos de Escravidão”, “Moonlight” ou “Infiltrado na Klan” foram feitos hoje, é porque existiu “Faça a Coisa Certa”. O filme é a obra do cinema negro mais importante até hoje e trouxe diversos nomes conhecidos mundialmente para ganhar espaço na tela. Mesmo assim a Academia deixou a produção de lado para dar o prêmio a um longa com um discurso mais confortável por ser menos contestador como “Conduzindo Miss Daisy”, filme em que, mais uma vez, está em posição de submissão ao branco.
Não é à toa que ainda hoje nenhum diretor negro, nem mesmo o Spike Lee, chegou perto de vencer o Oscar.