Devo admitir que estou em dúvida sobre o que escrever sobre o novo filme da saga Percy Jackson. Dizer o quão medíocre e tedioso esse filme é deveria soar como uma crítica construtiva ao trabalho?

Tenho esse questionamento devido ao fato do filme, de tão preguiçoso e sem criatividade, passar uma nítida impressão de que é propositalmente ruim. Seria como se tivesse esse pensamento como norte para o desenvolvimento de seu projeto, tendo seguido à risca uma série de ideias matematicamente pensadas para tornar o que é visto o mais óbvio e previsível possível, pois fica realmente difícil imaginar que os seus realizadores realmente tinham o interesse de fazer o contrário disso.

Assistir a esse Percy Jackson foi como rever um filme adolescente ruim, desses que minhas priminhas adoram, pela décima vez, quando você já sabe de cor todas as falas de todos os personagens, e decorou todos os movimentos de câmera, as entradas da trilha sonora e sabe os figurinos utilizados durante o filme.

Creio que você irá compreender que ver um filme adolescente ruim pela décima vez não é algo tão divertido para se fazer em um domingo a tarde.

De modo geral, a trama indica que Percy mostra-se desconfortável com o fato dos colegas de acampamento acharem que ele teve sorte nos acontecimentos do filme anterior, e que, no final das contas, ele é apenas um garoto como os demais. Certo dia, o local sofre uma invasão e o herói e seus amigos precisam salvar a todos. Para tanto, o grupo irá enfrentar uma perigosa aventura no mar de monstros, também conhecido como o Triângulo das Bermudas.

E que preguiça!

Talvez tenha sido contagiado pelo filme, e, por isso, esteja com tanta preguiça de escrever, afinal, se tivesse que definir Mar de Monstros em uma palavra, essa seria a escolhida.

O trabalho não sabe que caminho seguir, tenta seguir vários, chegando a lugar nenhum. Falha como filme de ação, falha como filme de aventura, falha como comédia e falha como cinema. A situação acontece pelo latente desinteresse em ir além da superfície das coisas. Os momentos de ação e aventura são mornos, não empolgam, são mal filmados e montados e sabotados por fracos efeitos visuais, que beiram o constrangimento (Tyson, o ciclope bonzinho, e o efeito da espada nos tiram do filme de tão mal feitos); soma-se a isso o fato do filme querer ser engraçadinho (era pra achar o Senhor D engraçado?), o que resulta em dois problemas, visto que como comédia ele não funciona e ainda tira o peso dos momentos “sérios”.

O suposto questionamento dos poderes de Percy fica na metade do caminho: uma hora ele não consegue falar com Poseidon, porém, depois, milagrosamente, consegue e volta a ficar confiante, sem que nenhum arco ocorresse. A trama, extremamente simples, ganha um surpreendente tom pretensioso, pois todas as viradas, questões e situações criadas para que os personagens evoluam e se tornem mais complexos ficam ‘travadas’ pela abissal incapacidade do diretor Thor Freudenthal em conseguir dar o mínimo de verdade ao que acontece.

Tanto faz quem morre ou não, quem e como vai se salvar ou se tudo era um sonho, pois da maneira rasa como as coisas são mostradas, tudo se torna indiferente, visto que o que está na tela é muito desinteressante, pobre e previsível.

Conduzida de forma apressada, a busca pelo elemento sagrado termina de maneira preguiçosa, duvidando da inteligência do público de maneira vergonhosa, como quando os garotos estão presos no iate e eles conseguem escapar, pois a mochila estava a poucos metros. Sem contar todos os clichês do roteiro presente em toda projeção, passando desde diálogos constrangedores a situações embaraçosas, como quando o fraquíssimo vilão Luke num belíssimo solilóquio arremata: “Antes de matá-los, vou explicar o meu plano!”.

Mas o que se poderia esperar visto que temos um desfile de personagens rasos, unilaterais e sem muitos atrativos? Percy com uma insegurança mal explicada; Clarisse que é competitiva, e por isso é… apenas competitiva; Luke que faz o que faz porque é vítima de um sistema que oprime os menos favorecidos, culpa de um governo opressor que oprim… (?); Tyson que quer ter um irmão, e é meio tapado; e Annabeth e Grover que… são os amigos do Percy. E todos são rigorosamente apenas isso.

A cereja do bolo fica por conta das inevitáveis comparações com Harry Potter, presentes em todo o filme, trazendo a sensação de um dèjá-vu interminável. Desde o trio Percy (Harry), Grover (Rony) e Annabeth (Hermione), passando por Chiron (Dumbledore) e Clarisse (Malfoy), temos situações que quase constrangem de tão semelhantes, como o carro na floresta, o cavalo alado que lembra um hipogrifo, uma quase cópia do torneio tribruxo, um animal enorme que toma conta da cela onde eles foram presos, fazendo um óbvio paralelo com o Fofo da Pedra Filosofal, e a existência de uma profecia para o protagonista.

Claro que é importante ressaltar que Harry Potter não criou nada, muitos de seus elementos podem ser encontrados em histórias prévias que certamente inspiraram J.K. Rowling, mas é impossível não notar um certo tom aproveitador da saga Percy Jackson tentando inserir elementos que deram certo na outra série, e incluindo na sua.

Somando-se isso ao fato de que o sistema de som da sala do Millennium em que eu assisti o filme era péssimo, poderia até concluir que tive um prejuízo bem grande ao ver este filme. Porém, como saquei no início da projeção a proposta do filme de ser ruim mesmo e fim de papo, confesso que até simpatizo com ele.

Hum, talvez simpatizar não seja o verbo mais adequado.

NOTA: 3,5