Não lembro ao certo quando foi a primeira vez que li um texto do Diego Moraes. Foi pelo Facebook, anos atrás. De cara me atraiu o seu senso de humor autodepreciativo e politicamente incorreto. Um texto foi puxando outro, e outro, as situações que ele descrevia me despertavam curiosidade por ele utilizar lugares e personagens da periferia de Manaus, e do submundo do Centro, “seres” que não são encontrados comumente pela nossa literatura com tanta profundidade.

Neste mesmo dia, ali na página dele no Facebook, pude ler dezenas de contos.

O autor fala algumas baixarias, resvala em preconceitos para tratar de determinados personagens que aparentemente não dispõem de sua simpatia. Também não parece se importar muito em se descolar da figura que, em primeira pessoa, diz sem freios a sua visão de mundo de alguém que é produto do seu meio de relações promíscuas. Porém este mesmo personagem possui compreensão sobre o lugar que lhe foi dado no mundo, e por inércia ou covardia ou algum outro motivo pouco nobre aceita essa condição por se sentir condenado a ter sempre uma vida marginal de poucas glórias, mas com um conhecimento muito particular e denso sobre a vida real.

 O “Bukowski da Amazônia”

O apelido aparentemente depreciativo (ou elogioso) de Bukowski da Amazônia trouxe luz a um autor que pode até se assemelhar às temáticas e tipos de personagens que o autor americano utiliza – como também poderia ser dito de Pedro Juan Gutiérrez, Plínio Marcos –, mas que na verdade apresenta uma escrita com voz própria, e de forte personalidade.

É particularmente brilhante como de maneira sucinta é capaz de criar imagens das suas personagens, que se impõem de maneira natural como é o seu linguajar, que desconcerta por ser uma mistura estranha de poesia com a fala mais vulgar e direta possível. Tramas que passam por bares de esquinas, puteiros, sarjetas, praças escuras, ônibus. Mas não em qualquer lugar. Manaus é uma ferramenta criativa que Moraes entendeu muito bem que seria um diferencial da sua escrita. Por já ter conhecido outras cidades, o autor parece entender muito bem as nossas particularidades, o que Manaus tem de caricato em seu contexto marginal, mas também de poético, vibrante. Ler citações a locais conhecidos da cidade como palco para esses personagens, que são como são por morarem onde moram, faz com que tudo seja ainda mais reconhecível.

O momento que descobri o Diego Moraes coincidiu com a escrita do argumento do Obeso Mórbido (2018), meu curta anterior. Eu e o Ricardo Manjaro ainda não estávamos tão certos sobre o tom do filme, e naquele momento o humor sarcástico do Diego parecia um caminho a investigar. Ele já havia escrito textos falando sobre a sua situação como gordo, como era visto pelos outros, e o que pensava sobre si ao não corresponder a um padrão de beleza.

Então veio a ideia de fazer uma cena em que o personagem, eu, passeava pelo Facebook e encontrava um texto do Diego sobre a sua vida sexual, de como as pessoas pensavam que ele não transava por ser gordo, e que isso na verdade era uma besteira. Eu, e o público, iríamos ler o post, depois ficaria tentado a curtir, mas pelo estado de morbidez do personagem, não faria nada. Mandamos o roteiro pro Diego ler para autorizar, e ele na mesma hora topou.

Como acontece no processo de qualquer filme, o roteiro passou por modificações e para deixarmos o filme mais enxuto essa cena caiu. Quando o filme chegou ao seu primeiro corte, fiz questão de mandar o link pro Diego, afinal ele era uma inspiração para mim, tava me alimentando do seu trabalho durante a criação do roteiro e gravação do filme, ler o que ele escrevia era uma maneira de me deixar ativo criativamente, de não ter medo de arriscar.

E ele adorou o filme. Chegou a ser engraçado a maneira como ele se empolgou com o resultado. O cara que eu admirava, reiteradas vezes disse que o filme que a gente tinha feito era das melhores coisas que ele já tinha visto por aqui. A vida às vezes pode ser generosa.

No mesmo dia ele me mandou vários contos dele por email, pediu que eu os lesse para adaptar algum pro cinema. Uma oportunidade extraordinária.

De todos os textos, tinha um particular que criava imagens o tempo inteiro. Nele o autor narra a relação que tinha com um revolver que enterrou no quintal de casa ainda na adolescência, como promessa para se vingar do homem que agredia a sua mãe durante sua infância e juventude. Um texto amargo, repleto de rancor e frustrações. Ele embarca para Parintins a procura do agressor, o procura pela cidade durante um tempo até descobrir que ele já havia morrido. Chama-se “Enterrado no Quintal”.

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