Lançado em 2015, “Songs my Brothers Taught Me” já oferecia ao público uma boa noção do talento de Chloé Zhao. Primeiro longa da atual vencedora do Oscar de Melhor Direção por “Nomadland”, o filme é um drama independente em que a busca pela própria identidade e ancestralidade andam lado a lado, compondo um retrato sincero da juventude e seus matizes.

Ambientado nas pradarias da reserva indígena Pine Ridge, no centro-oeste dos Estados Unidos, “Songs my Brothers Taught Me” acompanha o jovem Johnny Winters (John Reddy) e sua irmã mais nova Jashaun (Jashaun St. John). Balançados após a morte do pai ausente, os dois vivem os conflitos internos e externos próprios da idade e da vida ao lado da mãe solteira.

COLETIVIDADE NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE

Um coming of age para Chloé Zhao chamar de seu, “Songs my Brothers Taught Me” é, sobretudo, um filme sobre relações humanas. Distanciada de alguns clichês comuns desse tipo de produção, aí está um dos seus méritos, Zhao nos transporta da impessoalidade dos subúrbios para a coletividade da vida rural.

No processo de amadurecimento do personagem principal, o que tanto caracteriza o gênero, é onde mergulhamos nas profundezas da complexidade das primeiras relações. Estabelecidas com a família, a escola, aqui, a comunidade também exerce protagonismo na formação desses indivíduos.

 Diferente do individualismo acentuado nos centros urbanos, o meio participa ativamente na construção da identidade, lê-se as pessoas, o tempo e espaço, mas, especialmente, as tradições. O legado ocupa posição central na vida no desenvolvimento desses adolescentes.

SEMENTES PARA ‘NOMADLAND’

Ao lado disso está o elo entre pais e filhos. À medida em que Johnny busca a própria independência e tenta viver para além do núcleo familiar, Chloé Zhao explora a ambiguidade dessa que é a primeira conexão que criamos nesse mundo e também a primeira a qual queremos renunciar. A negação em trilhar o mesmo caminho dos pais ou herdar suas características é o que impulsiona o jovem a buscar seu caminho, mas, assim como afasta, o puxa de volta.

Nessa batalha travada com pais contra a hierarquia familiar, vem o vínculo fraterno. Contrapondo a dinâmica aversa com a mãe, a pré-adolescente Jashuan vê o irmão como guia e protetor. Do outro lado, para Johnny, o irmão mais velho entre os três, a quem constantemente vai visitar na prisão, é o seu cumplice e confidente contra tudo e todos.

Apoiados um no outro, por meio do afeto e companheiros entre eles que o caminho fica mais fácil. Não à toa é o sentimento de abandono sentido pela irmã menor que faz Johnny recuar.  

Todos esses relacionamentos e conexões são desenvolvidos e contados pela diretora com bastante sutileza e sensibilidade. De cara, Zhao já traçou uma maneira de contar histórias, tão celebrada no trabalho que a alçou para o mundo, “Nomadland”. Aliás, com um cenário muito semelhante ao filme protagonizado por Frances McDormand, o horizonte rochoso forma um mosaico de pessoas, vínculos e herança que fala muito além do que sua paisagem supõe em “Songs my Brothers Taught Me”.

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