Para a geração Y, Z, ou qualquer nome que melhor lhe convenha, crescer e se tornar um “jovem adulto” não é fácil: há pressões familiares, sociais e psicológicas em jogo, a cobrança/expectativa de um futuro brilhante, as listas do BuzzFeed lembrando diariamente das suas agruras, as redes sociais esfregando na sua cara o sucesso alheio e seus próprios tuítes diários com imagens de dor e sofrimento que parecem uma eterna bad cantada pela Lana Del Rey.

Nesse contexto, se, nos EUA, temos filmes dirigidos por Judd Apatow (Ligeiramente Grávidos) no mainstream ou protagonizados por Greta Gerwig (Frances Ha), no circuito cult, para nos identificar, no cinema brasileiro, quem se encarregou de assumir a frente desse segmento foi Matheus Souza, desde o lançamento do sucesso indie Apenas o Fim (2009) e do fraco Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Eu Tô Fazendo com a Minha Vida (2013) – um título autoexplicativo. Três anos depois, o diretor retoma a temática e conclui o que ele mesmo chama de sua “trilogia de baixo orçamento” com Tamo Junto, filme que se assume desde o começo como uma comédia que caminha na linha entre o escracho puro e o “humor inteligente” (seja lá o que isso queira dizer realmente).

Depois de uma sequência que poderia ser problematizada como pura banalização da violência doméstica, acompanhamos o recém-solteiro Felipe (Leandro Soares), que chega aos trinta anos tendo que encarar uma verdade inconveniente: não é tão fácil assim curtir a vida de solteiro quanto parece. Sem lugar para morar, ele encontra refúgio na casa do amigo de infância que não via há anos, o nerd Paulo Ricardo (o próprio Matheus Souza), e, no meio de suas peripécias noturnas, reencontra o amor da escola, Júlia (Sophie Charlotte), que está prestes a se casar.

Ao retratar personagens confusos que procuram lidar com a própria maturidade (ou a falta dela) e suas decisões de vida, Tamo Junto é um cruzamento de pastiche e homenagem a obras adolescentes que vão desde os clássicos de John Hughes (Clube dos Cinco) a American Pie e outros exemplares do mais puro besteirol. As fontes das quais o filme bebe, porém, nunca estão escondidas: Matheus recorre à metalinguagem para brincar com a narrativa, à medida que seu próprio personagem aponta as convenções do gênero no próprio filme, como o momento em que a vida do protagonista se transforma ou uma sequência de trocas de roupa numa loja.

Leandro Soares em Tamo Junto, de Matheus Souza

Ainda que a estética seja a mais desinteressante e despersonalizada possível, na maior parte do tempo, o filme é divertido, justamente pelo descompromisso e por nunca esconder suas referências e nem recorrer aos histrionismos cansados das comédias “padrão Globo Filmes”. Ao mesmo tempo, Tamo Junto incomoda por investir na representação estereotipada de um personagem nerd, quando o próprio diretor/ator é assumidamente nerd: Paulo Ricardo é o velho personagem exageradamente estranho, sem habilidades sociais, virgem, que mora com a mãe e mantém hábitos alimentares ruins e até cria seu próprio bordão (“glorioso!”), tal qual um Sheldon de The Big Bang Theory, e é presenteado com uma atuação por vezes constrangedora de Matheus Souza. Curiosamente, ele encontra uma manic pixie dream girl para chamar de sua, com um quarto recheado de DVDs das mesmas séries que ele assiste…

Os closes de Matheus Souza em action figures, games, DVDs e pôsteres nos quartos de seus personagens, aliás, sugerem que somos feitos daquilo que consumimos, e que a cultura pop nos define em grande parte como indivíduos. Parcialmente, não deixa de ser verdade – nossos gostos refletem sim quem somos e quem nos tornamos, ou eu não estaria usando uma camiseta de Star Wars se não fosse por isso –, mas Tamo Junto parece esquecer que somos mais que isso. Há mais em Felipe, Júlia, Paulo Ricardo e Diana do que suas séries favoritas, mesmo que o roteiro nos ofereça pouco desses relances. Afinal, como a irmã mais nova do protagonista de (500) Dias com Ela (outra comédia indie americana) já dizia, não é porque alguém gosta das mesmas porcarias que você que ela é sua alma gêmea.

Incômodos à parte, Tamo Junto acerta quando investe no casal vivido por Leandro Soares e Sophie Charlotte, com uma química crescente a cada segundo, beneficiada por situações insólitas, um rap improvisado simpático e um final que serve como uma singela homenagem a A Primeira Noite de Um Homem. A atriz, em especial, é responsável por alguns dos melhores momentos e diálogos de todo o filme, como quando reflete que está se casando pelo puro comodismo de ter alguém com quem dividir o aluguel.

Num panorama nacional de Leandros Hassuns crescendo exponencialmente, Tamo Junto não é a salvação, mas, ao lado de O Roubo da Taça, se torna uma das boas comédias brasileiras de 2016 que mostram que o gênero ainda pode sair da mesmice em que se encontra – basta um pouquinho de boa vontade, originalidade ou boas referências.