Quando o assunto é comédia brasileira, muito se alardeia a infiltração da linguagem televisiva das novelas no cinema, em especial, nas comédias produzidas pela Globo. Depois de muitos “Se eu fosse você”, “De pernas pro ar”, “Crô etc., percebe-se que mesmo esse olhar se mostra um pouco equivocado. A telenovela possui características que podem ser consideradas cruas ou pouco trabalhadas quando comparadas ao seu equivalente cinematográfico dentro da linguagem audiovisual, mas ainda assim, elas fazem sentido dentro de seu universo. A overdose de planos médios, os closes sempre acompanhados de trilha sonora óbvia, a iluminação impecável, tudo isso faz parte do “ser novela”, apreciemos ou não.

Já seria um problema enorme para quem curte cinema assistir a uma fita que segue a risca essas características ditas televisivas. Pior ainda é ver elementos caros à linguagem televisiva serem deturpados para um “não sei o que audiovisual”, como se percebe em filmes como “Vestido pra casar”. Não é cinema, não é novela, não é “Zorra Total”; o hibridismo que resulta nesse filme é tão confuso que só resta relaxar, não pensar muito e tentar rir porque, afinal de contas, é pra isso que as comédias servem. Pena que ele também não tem muita graça…

Ainda que insistamos na comparação com as novelas ou programas de comédia, percebemos que estes em vários momentos trazem lampejos de criatividade humorística. Não se trata de nenhum humor inteligente a la Monty Python, por exemplo, mas um personagem como o tal Félix de “Amor à vida” pelo menos gerava algumas risadas com seus comentários estapafúrdios e exagerados. Por sua vez, os esquetes geralmente sexistas de um Porteiro Severino de “Zorra Total” consegue, no mínimo, fazer rir pelo timing de sua malícia. Em “Vestido pra casar”, situações pouco cômicas são exploradas repetidas vezes, tal como acontece com esses personagens de novela e programas semanais, mas elas simplesmente não convencem nem na primeira vez. Tirando em alguns poucos momentos de aparente improviso, as risadas geradas são poucas.

A trama de “Vestido pra casar” é calcada a partir da comédia de erros e bem que poderia render um produto estereotipado, porém simpático. Fernando (Leandro Hassum) vai buscar a noiva (Fernanda Rodrigues) no aeroporto e acaba rasgando o vestido de uma ex-BBB (Renata Dominguez), que estava acompanhada do amante (Marcos Veras). Ele então deve esconder o casal “proibido” (já que a ex-BBB é casada com um senador), conseguir um novo vestido e lidar com a família da noiva.

Os personagens citados são tão estereotipados quanto se imagina só lendo a sinopse: Fernando é espertinho, sua noiva é boba, a ex-BBB é uma nojenta… Hassum não é o melhor dos comediantes, mas tem carisma e poderia ser mais bem aproveitado num filme que tivesse um roteiro escrito com um mínimo de atenção. Somando a isso as tentativas de fazer a homossexualidade de coadjuvantes uma piada (olha aí “Crô” fazendo escola!) e outras situações que simplesmente não convencem, o filme resulta num produto bastante irregular, o que casa muito bem com o também fraquíssimo cuidado com a montagem, construção dos planos, uso da trilha sonora e outros aspectos técnicos.

Por um lado, já é senso comum o dito “gosto não se discute” ao se comentar sobre esse filão do cinema nacional. Por outro, uma resenha se presta a avaliação e argumentação das principais características de uma obra e, inevitavelmente, há de se destacar a pouca criatividade do roteiro e a pobreza visual de “Vestido pra casar”. É pra aplaudir um público que consiga realmente se divertir com esse filme; o mundo precisa de pessoas tão alto astral assim, mas sinceramente, se for para assistir a algo com a qualidade desse filme, é melhor ficar em casa, ligar a televisão e curtir seu programa humorístico semanal favorito de graça. Provavelmente, vão sair no lucro.

Nota: 3,0