Estamos no meio de 2016, e Batman vs Superman: A Origem da Justiça continua sendo um dos blockbusters mais polarizantes do ano: sucesso de bilheteria, mal recepcionado pela crítica, amado por muitos fãs e detestado por outros. Aqui no Cine Set, por exemplo, o filme foi aprovado com ressalvas, se arrastando na média. Mas será que a chamada “Edição Definitiva” da obra, com 30 minutos a mais do que a versão exibida nos cinemas, consegue redimir o filme e torná-lo melhor? Afinal, desde que o corte estendido foi lançado no mercado de home video, muita gente já fez questão até de pedir desculpas ao diretor Zack Snyder, já que esse era o filme que, na concepção dele, deveria ter vindo ao mundo.

Pedindo desculpas ou não, para quem quiser encarar as 3 horas de duração da “Edição Definitiva”, a meia hora a mais de cenas faz um bem danado ao longa. Ainda não conserta os seus principais problemas, mas deixa claro que, em algum ponto no meio do caminho, havia salvação para Batman vs Superman. (E, para quem ainda não assistiu nem uma versão nem outra, vale lembrar: este texto contém spoilers!)

Henry Cavill em Batman vs Superman: A Origem da Justiça - Edição Definitiva (Versão Estendida)

O que tem a mais e melhor na versão estendida

De cara, quem sai mais beneficiado em Batman vs Superman: Edição Definitiva é o Homem de Aço. Se era difícil criar empatia com o personagem na versão dos cinemas, que claramente favorecia Batman/Bruce Wayne como protagonista, aqui Henry Cavill tem uma oportunidade melhor de explorar a humanidade de Clark Kent/Superman, à medida em que vemos o herói em seu alter ego jornalista, conversando com habitantes de Gotham City e descobrindo detalhes que o motivam a tomar partido contra o Homem-Morcego, ao mesmo tempo em que questiona suas próprias ações. Na cena da explosão do Senado, por exemplo, em vez de vermos o herói saindo dos destroços repentinamente, ele antes ajuda a resgatar os feridos e assim tem uma noção real da destruição ao seu redor, o que o leva a seu posterior exílio.

Toda a trama conspiratória envolvendo o Superman, aliás, é melhor delineada e ressalta algo de que já podia se desconfiar antes: no meio da bagunça que é Batman vs Superman, há um bom thriller de investigação jornalística e bastidores políticos, provavelmente cortesia da participação de Chris Terrio (Argo) no roteiro. Pode não ser o que o público espera de um filme de super-heróis, mas, no universo cinematográfico DC de Zack Snyder e seu tom pesado e obscuro, funciona e é ambicioso. Nessa versão, ao contrário do que vimos no cinema, o plano de Lex Luthor surge melhor explicitado – mesmo que sua motivação ainda soe rasa e Jesse Eisenberg continue numa linha de atuação histriônica –, o que torna o vilão não só mais perigoso, mas também ajuda a dar mais sentido às ações dos outros personagens envolvidos.

Assim, Amy Adams, por exemplo, não parece tão subutilizada pelo roteiro, já que sua Lois Lane ganha mais espaço para ser a figura da intrépida repórter que tenta descobrir a verdade sobre o atentado no norte da África logo no começo do filme – uma sequência que também ficou mais longa e compreensível para o contexto geral. Nesse contexto, entra também a antecipada participação de Jena Malone, que, no fim das contas, não era nem Barbara Gordon/Batgirl nem uma versão feminina do Robin, e sim a cientista Jenet Klyburn, personagem semi-desconhecida das HQs, que ajuda a determinar a origem da bala que Lois tem como prova do atentado. Ou seja: todo o mistério em torno da personagem da atriz, portanto, acabou sendo vazio e desnecessário, por puro hype.

Jena Malone como Jenet Klyburn em Batman vs Superman: A Origem da Justiça - Edição Definitiva (Versão Estendida)

Outros detalhes importantes na trama envolvem uma participação maior dos personagens Anatoli Knyazev/KGBesta (Callan Mulvey), capanga de Lex e mentor de muitas das conspirações no decorrer da trama, a africana Kahina Ziri (Wunmi Mosaku), que descobrimos ser na verdade uma atriz, a Senadora Finch vivida por Holly Hunter, bem ciente das intenções do vilão, e a cena já previamente liberada da “comunhão” estranha de Lex com o que parece ser um holograma do vilão Lobo da Estepe e as Caixas Maternas, em mais um easter egg que abre caminho para o vindouro filme da Liga da Justiça. Para quem procura uma lista mais detalhada, fica a dica: o Omelete listou aqui todo o material extra da versão estendida do longa.

Lobo da Estepe na cena Communion em Batman vs Superman: A Origem da Justiça - Edição Definitiva (Versão Estendida)

E o filme: agora tem como defender?

Como bem diz o ditado, o que foi visto não pode ser desvisto e, para o grande público, a versão de Batman vs Superman que vai contar é mesmo a que chegou nos cinemas em março. É uma pena, pois a Edição Definitiva realmente é uma experiência cinematográfica razoavelmente melhor do que aquela. Não que isso redima completamente o filme, afinal, seus maiores problemas continuam lá: as sequências de sonho gratuitas de Bruce Wayne, a resolução “Martha Ex Machina”, a montagem e ação confusas (agora com mais sangue, porém) e a direção problemática de Zack Snyder. Além disso, se pelo menos os dois primeiros atos do filme apresentam melhoras, o terceiro continua caótico e arrastado, e a presença de Mulher-Maravilha/Diana Prince de Gal Gadot ainda é o verdadeiro brilho do filme, mesmo que por tão pouco tempo.

Meia hora a mais ou não, quem não gostou de Batman vs Superman: A Origem da Justiça provavelmente vai continuar não gostando, e quem já havia amado vai ganhar algumas razões a mais para isso. Para quem ainda não assistiu, porém, se for para ver uma versão, que seja a Edição Definitiva. Pelo menos a concepção de Zack Snyder do embate épico entre os dois pilares da DC Comics fica mais clara, e também desperta a pergunta: era necessário mesmo que a Warner picotasse o filme do jeito que nos foi apresentado? Se o problema era duração, havia outras cenas que podiam ser perfeitamente encurtadas ou cortadas, sem afetar substancialmente a trama e os personagens, ou até mesmo um novo tratamento prévio do roteiro resolveria a questão – e assim, quem sabe, Batman vs Superman poderia ter sido o épico que todo mundo esperou.

Lex Luthor, Clark Kent e Bruce Wayne em Batman vs Superman: A Origem da Justiça - Edição Definitiva