Bem, antes de tudo algumas coisas precisam ser ditas: Steven Knight é um grande roteirista. Escreveu os excepcionais roteiros de Coisas Belas e Sujas (2005) e Senhores do Crime (2007), entre outros, além de ter criado e escrito a ótima série de gangsters Peaky Blinders. É também um diretor interessante, tendo estreado muito bem na função com Locke (2013), seu drama estrelado por Tom Hardy que trazia o ator num desempenho confinado num carro. E ninguém pode dizer que os atores Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jason Clarke e Djimon Hounsou não são, no mínimo, muito competentes. No entanto, o cinema é realmente complexo e imprevisível – esse é um dos seus aspectos fascinantes. Todo esse pessoal muito bom se reuniu e produziu Calmaria, um filme que só pode ser descrito como um desastre quase completo.

Escrito e dirigido por Knight, Calmaria traz McConaughey, quase sempre suado ou molhado, como o pescador Baker Dill. Dill vive na ilha Plymouth, aluga seu barco para turistas endinheirados pescarem, tem um caso com uma mulher local – vivida por Diane Lane – e é obcecado em pegar um enorme atum. Um dia, sua ex-exposa Karen (Hathaway) aparece na ilha e lhe oferece 10 milhões de dólares para que Dill mate o atual marido dela. O sujeito (Clarke) é violento, abusa de Karen e coloca em risco o filho dela com Dill. Pressionado, o pescador começa a cogitar ir em frente com o crime… Mas, como sempre nesses filmes, as coisas não são o que parecem. Não mesmo.

O começo do filme é até razoavelmente interessante. Calmaria é, na sua primeira metade, um filme noir, colorido e quente. A apresentação da personagem de Hathaway praticamente grita “femme fatale de trama noir”, e o próprio herói é uma figura dúbia, com mais defeitos que qualidades. Nesse trecho, o filme até segura um pouco a atenção do espectador.

O problema é que, na segunda metade, Knight parece adquirir consciência de que já vimos esse filme antes e resolve incluir um plot twist que modifica a história. Na teoria, parece uma boa ideia, uma reviravolta aleatória para introduzir um esperto comentário sobre a trama que estávamos vendo até então. O problema é que a execução em tela é boba: ao invés de explodir nossas mentes, o Knight roteirista nos leva a perguntar: “Mas então era isso? Que droga…”.

Essa reviravolta enfraquece o enredo, ao invés de torná-lo mais interessante, e o Knight diretor não consegue compensar isso com a sua direção. Entre planos em computação gráfica do tal atum gigante, alguns movimentos de câmera exagerados, metáforas visuais – o filme é cheio delas, a maioria nada sutil – e desempenhos inconstantes – Hounsou e Lane não têm o que fazer com seus personagens; McConaughey até se esforça, mas em vão; Clarke se diverte e Hathaway está bem fraquinha –, o resultado final acaba sendo muito decepcionante, levando-se em consideração o talento envolvido.

Decepcionante nem é o termo correto… Calmaria é, na verdade, um filme boboca que em algum momento se achou esperto, uma ideia até interessante apresentada de forma tosca e canhestra e que, ao invés de despertar curiosidade no espectador, provoca apenas risos involuntários. De vez em quando, achamos que certos filmes simplesmente não têm como dar errado, só de vermos os nomes envolvidos. Mas a vida ensina… Fazer um filme é sempre uma aposta, e os deuses do cinema são temperamentais…