Para quem está acostumado com o ritmo da série “24 Horas” e dos filmes de James Bond deve estranhar bastante “O Homem Mais Procurado”. Se Jack Bauer e 007 estão sempre em confronto mortal com algozes, o agente secreto Günther Bachmann precisa de muito mais paciência para conseguir chegar (ou não) a seus alvos. As longas investigações, a análise de pistas desencontradas, o trabalho de convencer espiões a atuar do lado dele, a politicagem entre agências governamentais transformam o sujeito em uma autêntica bomba-relógio sem a possibilidade de explodir. A espionagem, aqui, é o famoso trabalho de formiguinha em que cada mínima conquista leva dias para ser alcançada.

O ponto de partida da trama se dá na chegada do jovem Issa Karpov (Grigoriy Dobrygin) à cidade alemã de Hamburgo. De origem chechena, ele acaba chamando a atenção da equipe antiterrorista liderada por Bachmann e começa a ser investigado. A situação ainda envolve uma jovem advogada (Rachel McAdams) interessada em auxiliar o rapaz a chegar até um banqueiro (Willem Dafoe) que pode ajudá-lo a resgatar uma herança milionária.

Baseado no romance do escritor John le Carré, “O Homem Mais Procurado” segue a linha de “O Espião em que Sabia Demais”, outra obra do autor britânico. Isso significa que a base da ação está concentrada nos diálogos e em pequenas atitudes. A ambientação em Hamburgo simboliza o estado de espírito de Bachmann. Se a cidade alemã vive sob estigma de ter sido o local onde os terroristas do 11/09 planejaram o atentado ao World Trade Center, o agente secreto enfrenta o peso do fracasso de uma missão fracassada causadora de mortes em Beirute. O temor por um novo erro atormentam ambos, o que faz a paranoia crescer e as traições se sucederem seja dentro da própria família ou entre pessoas idealistas, enquanto o policial age fora dos padrões a partir do pensamento de que “os homens escuros querem nos matar” com a bela desculpa de tornar o mundo mais seguro. A escuridão em que o protagonista mergulha constantemente se mostra um achado do diretor de fotografia Benoît Delhomme para trazer com simbolismo esse ambiente.

Hoffman consegue trazer esse ambiente de estado de exceção com propriedade ao dar um aspecto sempre exausto a partir do sotaque alemão carregado e arrastado. Apesar do mau aproveitamento do ótimo Daniel Bruhl, o elenco coadjuvante consegue destaque pelo desenvolvimento sem pressa adotado tanto na direção quanto no roteiro por Anton Corbijn (aliás, uma marca característica do cineasta responsável pelo excelente suspense “O Homem Misterioso”). Isso faz com que Rachel McAdams, Willem Dafoe, Robin Wright e Dobrygin tenham momentos para brilhar e conseguir criar dualidades interessantes para os respectivos personagens.

Mesmo com a condução tensa e montada com extrema precisão, “O Homem Mais Procurado” se entrega ao caminho óbvio de optar por um final com mais suspense ao em vez de colocar mais ênfase na paranoia de uma época. Independente disso, é um suspense de primeira.

NOTA: 7,5