Uma concha de um centímetro usando tênis com apenas um enorme olho e uma língua afiada. Esse pode ser o resumo básico de “Marcel the Shell With the Shoes On” (“Marcel, a concha de sapatos”, em sua tradução livre), mas o filme é muito mais que isso. Tão profundo e encantador, a animação provoca os mais diversos questionamentos, bem como o seu irresistível protagonista.

Baseado no curta-metragem que fez muito burburinho tempos passados, Marcel, agora, volta em um falso documentário sobre ele e sua visão de vida, comunidade, companheirismo, amor, mundo, família e dúvidas acerca da inconstância da existência. O protagonista dublado por Jenny Slate é incrivelmente sagaz, inteligente e questionador. Junto ao narrador do filme (Dean Fleischer-Camp, que também dirige) ele mostra que o seu mundo ao lado da avó, Connie (voz de Isabella Rossellini) pode ser tão complexo quanto divertido.

Quando alcança certa fama por viralizar na internet em busca dos seus outros parentes conchas, questiona a necessidade das pessoas que, em vez de ajudá-lo, vão para a porta de sua casa fazer dancinhas, em uma clara crítica à geração tiktoker sem nada na cabeça, além do remelexo do corpo e/ou usar de outras narrativas para à fama.

Distribuído pela A24, a produção usa da técnica stop-motion + live action para contar essa história inspiradora que tem se tornado uma coqueluche no circuito cinematográfico desde quando estreou em festivais no ano passado. E, se não fosse pelo imbatível “Pinóquio”, de Guillermo Del Toro, certamente, seria agraciado com o Oscar de melhor animação e com todos os merecidos méritos.