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França – Uma Relação Delicada

Isabelle Huppert carrega “Uma Relação Delicada”. A luta da cineasta Maud contra o próprio corpo para se manter ainda autônoma após um derrame ganha força e veracidade pelo trabalho da atriz francesa. Cenas como a dificuldade em soltar os dedos fechados na própria mão até a queda em casa na chegada do supermercado permitem ao público dimensionar o drama vivido por aquela mulher. A protagonista está em conflito consigo mesma tanto interna como externamente, pois, além da fragilidade corporal explícita, há ainda a lucidez da situação, talvez, tão aterradora quanto as dificuldades enfrentadas pela doença.

Baseada na própria história de vida, a diretora e roteirista Catherine Breillat, infelizmente, não consegue desenvolver bem todo o redor da personagem, o que torna sempre os desafios de Maud para lidar com o corpo mais interessantes que os coadjuvantes da história. Os momentos entre a protagonista e o golpista Vilko Piran não chegam a soar tão verdadeiros como a obra pedia pela interpretação canastrona de Kool Sheen e como os golpes são aceitos tão facilmente. Já a situação familiar pouco chega a ser abordada, sendo apenas a breve cena em que vemos a mãe da cineasta em um processo parecido com o dela algo digno de nota.

O envolvimento emocional com a própria história e a grandeza oferecida por Huppert podem ter feito Breillat se perder na trama. Um outro cineasta no comando poderia trazer o foco necessário para “Uma Relação Delicada”. Mesmo assim, há Huppert e isso basta.

NOTA: 7,0

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México – Heli

Podem me chamar de puritano, mas, acima de tudo, acredito que uma cena choca muito mais deixando ao espectador a construção da imagem do que explorar o fato em todos os seus fotogramas. Roman Polanski deixou isso claro em “O Bebê de Rosemary” assim como John Ford o fizera em “Rastros de Ódio”.

Vencedor do prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes 2013, Amat Escalante segue a lógica oposta em “Heli”. O drama busca mostrar as crueldades da violência mexicana, tanto nas gangues rivais quanto da polícia do país. Com esse intuito, o cineasta não economiza e traz as mais pesadas cenas de brutalidade vistas nas telas nos últimos anos (e olhe que não gosto de utilizar esse tipo de termo exagerado) envolvendo crianças, adolescentes, adultos e até animais.

Depois de terminada a sessão, uma pergunta não me saiu da cabeça: qual objetivo de tanta violência explícita?

Afinal de contas, o foco do público deixa de ser nos personagens envolvidos na história para ficar concentrado nas duas ou três sequências chocantes vistas na projeção. O sensacionalismo de “Heli” o transforma em um “Cidade Alerta” proibidão: não há pessoas ali e sim apenas a violência gritando sem saber para onde ir.

Boas intenções em denunciar a violência sem fim no México não faltaram a Escalante. As imagens, definitivamente, grudam na cabeça do espectador. A busca para chocar, porém, remete a um certo menosprezo intelectual do público e uma falta de propósito de discurso.

NOTA: 5,0

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Portugal – Florbela

Para quem viu “Tabu” e “O Estranho Caso de Angélica”, “Florbela” é uma decepção do cinema português. Dirigido por Vicente Alves do Ó, o filme sobre a poetisa Florbela Espanca traz uma história arrastada e indecisa sobre quais rumos tomar. Ora acompanhamos o relacionamento com o irmão ora o romance complicado com o atual marido sem a profundidade necessária.

Quando pretende ousar um pouco mais como a cena em que a poetisa se relaciona com um homem desconhecido no meio da rua, “Florbela” ganha energia e parece que irá aprofundar mais na mente da protagonista. Infelizmente, tudo volta ao normal e o roteiro esquemático de Alves do Ó se impõe novamente. A obra portuguesa somente não chega a ser tediosa pela densa interpretação da atriz Dalila Carmo e do intérprete do irmão da protagonista, Ivo Canelas.

Sem o orçamento necessário para recriar a Portugal dos anos 20, o diretor de fotografia Acácio de Almeida precisa sempre trabalhar com ângulos fechados ou médios mesmo em tomadas externas, lembrando minisséries globais de época. O roteiro sofre ainda com frases forçadas que ficariam melhor dentro de um livro e não em um filme.

Vicente Alves do Ó tinha a difícil missão de levar aos cinemas uma figura complexa como Florbela Espanca. Mesmo longe de ser bem-sucedido, o filme, pelo menos, pode fazer o público se interessar na poesia da artista.

NOTA: 6,0