De Volta para o Futuro é sobre o tempo. E aqui estamos nós, marcando o tempo e celebrando a data 21 de outubro de 2015 como o dia De Volta para o Futuro. No segundo filme da trilogia, este é o dia no qual Marty McFly, sua namorada Jennifer e o cientista Emmett “Doc” Brown chegam ao futuro para resolver um problemão com a família McFly. De Volta para o Futuro: Parte 2 foi lançado em 1989, e o 2015 parecia tão distante então…
Faz 30 anos que esses filmes estão conosco – 2015 marca também o 30º. aniversário do primeiro De Volta para o Futuro e o 25º. aniversário de De Volta para o Futuro: Parte 3, lançado em 1990. Ou seja, é um ano sem igual para todos os admiradores da trilogia. E é difícil achar alguém que não goste destes três filmes. Eu mesmo considero um teste pessoal, uma espécie de prova dos nove psicológica que faço subconscientemente com as pessoas – eu sei, não devia fazer isso, mas… Se um dia eu conhecer alguém que não goste de De Volta para o Futuro, vou me afastar dessa pessoa e não vou querer ter qualquer relação com ela. Felizmente, isso ainda não aconteceu.
Mas divago. O ponto é que, se hoje em dia celebramos a trilogia De Volta para o Futuro, é porque os três filmes foram inteligentemente concebidos para serem “atemporais”, se é que isso faz sentido. Por trás de todas as confusões temporais nas quais Marty e Doc se envolvem, o núcleo da trilogia é uma ideia muito humana, a eterna vontade do ser humano de querer voltar no tempo, seja para corrigir um erro ou só para se divertir.
E diversão é a palavra na mente de Marty. Quando o conhecemos no primeiro filme, ele é um adolescente normal dos anos 1980 que escuta rock (seu sonho é ser músico) e mora num subúrbio sem graça e dilapidado. Ele volta no tempo por acidente com a máquina/carro DeLorean do Doc Brown, seu amigo, e vai parar 30 anos no passado. Ele vê como sua cidade era bonita e arrumada, vê a velha programação de TV e de cinema da época, vê a moda e os carros… Em resumo, ele tem a chance de viver na época dos seus pais, o que poderia parecer aborrecido para um jovem descolado da época. Ele também literalmente encontra seus pais, quando eles eram jovens e bonitos, e a sua futura mãe, Lorraine, fica a fim dele – que barra pesada!
Hoje em dia sabemos a origem da ideia central de De Volta para o Futuro. O roteirista Bob Gale estava fuçando umas velharias em casa e topou com um álbum de fotos do seu pai. Vendo as fotos, seu pai lhe pareceu um grande nerd caxias, e Gale se perguntou: “Se eu tivesse conhecido meu pai nessa época, teria gostado dele? Teríamos sido amigos?”. Gale propôs ao seu parceiro Robert Zemeckis a ideia de uma viagem no tempo com esse gancho como noção principal. De repente, a história tinha um gancho humano e emocional – algo do qual muitos blockbusters se esquecem – no qual se podia pendurar os efeitos especiais e coisas malucas típicas de um filme “para a família”. Um filme para a família meio safadinho, com um subtexto de incesto graças ao flerte entre Marty e Lorraine.
Porém, ninguém queria fazer o filme. Gale e Zemeckis tinham fama de pé-frios, tendo lançado dois filmes que ninguém viu – Febre da Juventude (1979) e Carros Usados (1981) – e escrito o roteiro do primeiro fracasso do amigo Steven Spielberg, 1941, Uma Guerra Muito Louca (1979). A Disney recusou o filme por não gostar da relação entre Marty e a mãe. O roteiro passou por várias mudanças: a máquina do tempo inicialmente era uma geladeira, depois uma câmara, o final se passaria num campo de teste de bombas atômicas… Foi apenas quando eles decidiram pôr a máquina do tempo num carro que o roteiro começou a funcionar.
E só conseguiram fazer o filme depois de Zemeckis finalmente marcar um sucesso com Tudo por Uma Esmeralda (1984). Ainda assim, tiveram de enfrentar um grande problema quando dispensaram o ator Eric Stoltz, que gravou algumas semanas de filmagem no papel de Marty. A primeira escolha de Zemeckis e Gale sempre foi Michael J. Fox, mas o jovem ator estava ocupado filmando a sitcom Caras e Caretas. Após a dispensa de Stoltz – uma decisão arriscada que poucos cineastas teriam a coragem de tomar – ambos, com o auxílio de Spielberg, conseguiram criar um acordo que permitiu a Fox fazer os dois trabalhos ao mesmo tempo. Não à toa, as mais complexas cenas envolvendo Marty no primeiro filme se passam à noite, pois era quando o ator geralmente estava disponível. As cenas diurnas eram gravadas nos fins-de-semana.
Problemas à parte, o filme estreou e foi um sucesso – a maior bilheteria de um filme americano em 1985. O estúdio imediatamente quis uma sequência: Gale e Zemeckis vieram com duas, um enorme projeto dividido em duas partes que mostrariam Marty e Doc em aventuras no futuro (2015), num presente alternativo e no Velho Oeste, em 1885. O resultado foi a trilogia que ainda hoje conquista novos fãs em diferentes gerações. Essa é outra lição que a trilogia oferece aos blockbusters modernos: efeitos visuais vêm e vão e envelhecem; mas se os personagens são legais e a história interessante, então o filme pode muito bem viver para sempre na mente do público.
Outro fator responsável por hoje estarmos comemorando o dia De Volta para o Futuro é a integridade dos seus realizadores, que nunca quiseram fazer uma “Parte 4” capaz de manchar o seu legado. É de se admirar a postura de Gale e Zemeckis, ainda mais na era das franquias de hoje, em não querer revisitar aquele universo. O público com certeza veria uma “Parte 4” ou mesmo um remake, talvez mais pela curiosidade. Mas, para os cineastas e para milhões de fãs ao redor do mundo, De Volta para o Futuro significa muito mais do que apenas mais uma marca a ser explorada nas bilheterias.
E realmente, trata-se de três filmes muito especiais. Como um longo filme da Pixar, mas com atores reais, os três De Volta para o Futuro possuem aquela qualidade difícil de definir e cuja palavra definidora deveria sempre ser usado com o máximo rigor: magia. Dentro dos três filmes, convivem juntos a inocência típica dos anos 1950 com uma pitada de malícia, ingrediente que foi usado em demasia em muitas comédias dos anos 1980 e que nunca chegaram perto de alcançar o status que De Volta para o Futuro alcançou. E em meio às aventuras e piadas, existem três curiosas e emocionantes histórias de amadurecimento: a de George McFly no primeiro filme e as de Marty e Doc nas continuações.
O futuro que os heróis da trilogia visitaram em 2015 não se tornou realidade, de modo geral. A Parte 2 acertou em algumas previsões, como a nostalgia pelos anos 1980, as TVs de plasma com múltiplas programações, e comunicação via Skype, mas outras permanecem ficção. Ainda não temos hoverboards nem carros voadores. Nem Tubarão 19 dirigido por Max Spielberg.
Mas isso até adiciona ao charme da trilogia: no fim das contas, agora os filmes são sobre o passado tanto sobre quanto eram sobre o futuro. Marty McFly conseguia entender suas origens e a da sua própria cidade, do mesmo jeito que nós hoje olhamos para o seu eterno presente, 1985, com nostalgia e/ou fascínio, dependendo da idade de cada espectador, em busca do nosso próprio passado. Ao se congelar no tempo, a trilogia se torna um artefato, uma obra de arte à qual se retorna com interesse, à procura de diversão. E esse é outro motivo do duradouro apelo dos filmes: existem poucos projetos na história do cinema tão divertidos quanto esta trilogia.
Então, bem vinda ao futuro, trilogia De Volta para o Futuro.
O tempo está sendo muito gentil com você.
ótima resenha.
De fato uma das obras mais amadas da história do cinema. mexe com nosso imaginário, nos faz sonhar e NÃO APENAS SONHAR: Muitas engenhocas sugeridas na ficção já fazem parte dos nossos cotidianos. Além do mais o filme parece que nunca acaba, pois ELE VIAJA NO TEMPO. Isso nos deixa expectativa de novas tecnologias, novas invençoes, muitas delas já existentes, como debito e crédito instantâneo, telas interativas, skate magnético, comandos de voz para aparelhos, acho que não só as gerações que assistiram no seu tempo, mas as futuras gerações também ainda serão inspiradas por essa trilogia…
É claro, que se realmente existisse, seria, como diz o Dr Emmett, um tremendo “paradoxo temporal” imaginen só o Martin recebendo a carta do Dr Emmett setenta anos depois em 1955 no segundo filme: Essa hora o Dr já teria teria morrido há decadas…Ou então: o Velho Biff pobre, depois de entregar o almanaque com os resultados esportivos que lhe renderiam fortunas, volta para 2015 e encontra o Velho Biff RICO?! é óbvio que o velho Biff rico iria desprezar o velho Biff pobre e tachá-lo de provável impostor… MAS.. apesar de tudo, a trilogia vale pela sua magia e com certeza continua encantando até hoje.