Um filme como “Awake” poderia ser classificado como um thriller de ficção científica, mas que não é bom nem em ser thriller e muito menos em ter alguma base científica relevante na sua trama. Se você quer uma experiência de tensão real ou uma narrativa envolvente, com certeza não será aqui.
Dirigida e co-escrita por Mark Raso (“Kodachrome”), a trama fala sobre um dia onde todas as pessoas pararam de dormir e passaram a lidar com as consequências fisiológicas da ausência do sono. No entanto, em como a maioria dos filmes do gênero existem exceções: uma senhora mais velha e uma menina chamada “Matilda” (Ariana Greenblatt), filha da protagonista do filme, “Jill” (Gina Rodriguez). Ela é uma ex- militar que, após a perda do marido na guerra, entrou em um mundo de vícios em drogas trabalha como segurança em uma universidade.
A premissa de “Awake” pode até parecer interessante ou, no mínimo, diferente, afinal as pessoas quando param de dormir podem sofrer uma série de problemas psicológicos como perda da memória e alucinações. Essa noção da ausência do sono até entra no escopo da narrativa, porém, a condução do roteiro, feito por Mark junto com o irmão Joseph Raso, gera uma série de sequências estapafúrdias fazendo o filme cair no ridículo.
A partir da tentativa de construir momentos de tensão, o roteiro traz possíveis lógicas sobre como a humanidade buscaria soluções para sair desse problema entre elas procurar a religião, partir para a barbárie ou ir correndo buscar ajuda na ciência. A última solução geralmente responde os problemas de um filme do gênero de “ficção científica”, mas aqui a resposta vem da forma mais esdrúxula. Não vou contar pois estraga o final do filme mesmo ele sendo ruim.
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Um dos momentos mais patéticos de “Awake” é a sequência dentro da igreja. A avó da “Matilda” a leva para o pastor pensando que a menina é um milagre e um dos fiéis sugerem absurdamente sacrificá-la para salvar as pessoas. Logo em seguida, surge um diálogo do pastor tentando convencer a menina a se sacrificar pela humanidade sem sequer saber se irá dar certo ou não. Desesperada, “Jill” resolve tirar sua filha do local a qualquer custo fazendo um dos fiéis se revoltar atirando em um personagem.
A direção de Raso até tenta inserir uma condução mais virtuosa na câmera durante a produção, no entanto, ele não faz milagres. O texto ruim ainda faz o favor de puxar todas as interpretações para a canastrice mesmo sendo um bom elenco. Gina Rodriguez (“Jane The Virgin”) se esforça para soar crível, mas o texto é tão ruim que ela vira uma caricatura na tela. Jennifer Jason Leigh (“Atypical”, “Os Oito Odiados”) aparece em alguns minutos de filme e sempre no automático. A jovem Ariana Greenblatt (“Amor e Monstros”) tem a melhor personagem da narrativa, mas, infelizmente, “Awake” explora tão pouco a garota se reservando a dar toda atenção ao personagem da mãe.
Já não é de agora que a Netflix lança títulos com produções bem pobres narrativa e tecnicamente associadas a atores consagrados com a intenção de fazer volume de catálogo. Esse aqui claramente é mais um deles. É possível estabelecer um paralelo bem forte com outro título famoso do serviço, “Bird Box”, porém enquanto um cria momentos de tensão reais na narrativa e apresenta uma direção segura, em “Awake” você fica apático. O filme tenta vender uma ideia original, mas, no final, revela ao público não saber exatamente o que fazer com ela, ficando apenas a sensação de uma jornada inútil e sem sentido.