Quem está acompanhando as críticas de Obi-Wan Kenobi aqui no Cine Set deve ter notado que tenho considerado a personagem Reva problemática. Por quatro episódios, ela parecia malvada demais, exageradamente determinada em encontrar o herói da trama sem que houvesse uma motivação clara em tela para justificar toda essa vilania. Além disso, a atriz Moses Ingram alternou bons e maus momentos em sua atuação ao longo dos episódios.

Agora, nesta Parte 5, os roteiristas finalmente deram a nós e à personagem a motivação que faltava. E isso fez muito bem a ela. Pena que pouco depois eles se atrapalham novamente e acabam não fazendo justiça ao potencial dramático que se apresentou diante deles.

Mas já chegaremos lá: esta Parte 5 se inicia com Kenobi e aliados tentando fugir do Império. Reva, agora como Grande Inquisidora – ela recebe o título do próprio Darth Vader – cerca o planeta onde os heróis estão, forçando-os a se esconder numa caverna. Enquanto Vader não chega, Reva tenta tomar o lugar e Kenobi decide se entregar para proteger o segredo dos filhos de Anakin Skywalker. É quando o velho mestre Jedi e nós descobrimos quem é Reva e o que ela queria.

Porém, pouco depois que Kenobi fica cara a cara com Reva, o roteiro embarca em um vai-e-vem de “herói se rende, herói escapa” que mina o potencial do que ambos poderiam fazer contra Vader. Ingram e Ewan McGregor trabalham bem juntos e exploram as nuances da interação, mas, no fim, o trabalho deles acaba não sendo recompensado. É como se os roteiristas da série armassem as peças do tabuleiro para criar algo de fato impactante e emocionante, mas desistissem em cima da hora apenas para mostrar Reva brigando com Vader. A briga é empolgante? Até que é, mas em um nível muito simples. É aquela cena que já vimos em Star Wars só algumas dezenas de vezes.

Falando em briga… Ao longo de todo o episódio, presenciamos um flashback de um treinamento Jedi entre Kenobi e Anakin e vemos Ewan McGregor e Hayden Christensen caracterizados como estavam em Star Wars: Episódio II – Ataque dos Clones (2002). É um momento nostálgico, claro, um grande fanservice para fazer o fã sorrir e que nos possibilita ver os atores retornando ao passado, com uma iluminação suave na fotografia para fazê-los parecer 20 anos mais jovens. Mas é também um momento que revela a natureza de ambos: o equilíbrio de Kenobi contra a raiva mal disfarçada de Anakin, e essa rememoração acaba tendo um belo desfecho no episódio.

Essa cena, entretanto, também reforça um aspecto dramático que, até agora, “Obi-Wan Kenobi” não deu conta: no fundo, há uma história aí de dois caras que eram amigos e que sempre conhecerão muito bem um ao outro, por mais que um deles tenha se tornado o mal encarnado. A interação entre Kenobi e Vader já decepcionou um pouco lá na Parte 3, mas essa cena demonstra que McGregor e Christensen, cuja amizade sempre pareceu real na tela, poderia fazer mais do que só lutar com sabres de luz e fugir um do outro.

A direção de Deborah Chow também decepciona no cerco, momento crucial do episódio. Temos soldados imperiais abrindo fogo contra Kenobi e seus companheiros num cenário pequeno de caverna e os heróis revidam. A câmera tremida e os cortes rápidos junto com a coreografia tornam a sequência decepcionante, afinal, os soldados de ambos os lados erram seus tiros de uma maneira quase cômica para fazer a ação se estender. A Parte 4 já havia mostrado uns momentos de ação irregulares e involuntariamente engraçados, e isso volta a ocorrer aqui de maneira esquisita.

No geral, esta Parte 5 de Obi-Wan Kenobi mantém o nível da série: nem ruim, nem ótimo. Porém, este segmento em especial escancara algumas oportunidades perdidas dentro da história que poderiam levá-la por um caminho interessante. Ao invés disso, os roteiristas e produtores parecem meio que determinados a ficar numa zona de conforto. O final desta Parte 5 não nos permite realmente presumir o que pode acontecer na Parte 6, que encerrará a série. Mas a se julgar pelo visto aqui, o final também deverá se manter confortável, o que é uma pena. Os retornos de McGregor e Christensen ao universo Star Wars poderiam – e mereciam – ter rendido um pouco mais.