Após toda popularidade da primeira e segunda parte de ‘La Casa de Papel’ na Netflix, a série volta ao streaming com altas expectativas por parte do público. Novamente, os personagens carismáticos se escondem atrás das máscaras de Salvador Dalí para realizar um assalto, porém, além disso, o sucesso espanhol também repete diversos erros do passado como as justificativas fáceis e o esquecimento de tramas e personagens.
Desta vez, Rio (Miguel Herrán) é capturado pela polícia, obrigando Tóquio (Úrsula Corberó) a contatar o Professor (Álvaro Morte) para salvá-lo. O líder do grupo decide então realizar um assalto ao Banco da Espanha, um alvo teoricamente mais difícil que a Casa da Moeda, roubo anterior do bando. Assim, Denver (Jaime Lorente), Nairóbi (Alba Flores), Helsinque (Darko Peric) e Estocolmo (Esther Acebo) se juntam aos novos integrantes do grupo, Bogotá (Hovik Keuchkerian), Palermo (Rodrigo De la Serna) e Marselha (Luka Peros), para executar o plano.
Para o bem ou para o mal, esta terceira parte, com grande influência direta da própria Netflix, reflete em uma certa “americanização” de “La Casa de Papel”. De certa forma, a interferência do streaming resulta negativamente em um principal detalhe: a trilha sonora. Diversas músicas americanas são colocadas insistentemente nos episódios, sendo, em muitos momentos, desnecessárias e servindo para uma questão de estilo apenas – sem contar que todos queremos ouvir realmente Bella Ciao.
Por outro lado, o aumento no orçamento permitiu a inserção de diferentes cenários bem aproveitados durante os episódios. Da mesma forma, a volta de todo antigo elenco também é um grande benefício, pois, a maioria da trama consegue avançar graças ao carisma do grupo, igualmente responsável por manter o interesse do público constante durante os oito episódios.
Além do elenco repetido, “La Casa de Papel” também reforça bastante a ideia de resistência nesta terceira parte. Este termo sempre utilizado pelo Professor novamente volta ao seu discurso contra o sistema, principalmente, quando o governo dá o famoso chá de sumiço em Rio sem apresentar notícias. Desta vez, a produção investe mais em cenas que representem este embate direto entre o sistema governamental e a população com momentos de protestos e manifestações.
VELHOS ERROS NOVAMENTE
Entretanto, não são somente as coisas boas que se repetem. Novamente, “La Casa de Papel” exige uma grande suspensão da descrença do público ao apresentar diversas justificativas e saídas fáceis aos problemas inseridos, ou seja, é preciso que o espectador ignore diversas circunstâncias contraditórias para o bem da narrativa, pois esta não apresenta uma história verdadeiramente bem escrita.
Outra situação é a insistência em contar a história por meio de flashbacks, o que ocorre de forma mais natural desta vez, porém, ainda assim apresenta dificuldades em se encaixar tais momentos nos episódios, considerando toda a nova trama decorrente. Isto também implica na falta de coragem do seriado em se despedir de personagens já que grande parte das histórias antigas retratam Berlim (Pedro Alonso), o qual morreu na última temporada, sendo assim uma forma de prosseguir com sua presença (até mesmo sua personalidade sobrevive por meio de Palermo).
Esta covardia em abandonar personagens também é notória em dois momentos diferentes da trama, quando a série teve a oportunidade de matar Rio e Denver. Ao invés de se despedir de ambos, “La Casa de Papel” prefere seguir em frente, guardando este recurso para os acontecimentos finais da terceira parte. Assim, momentos que poderiam ser decisivos para a trama se tornam apenas situações interessantes de serem vistas.
Apesar de não apresentar tantas novidades em sua narrativa, ‘La Casa de Papel’ consegue se sobressair ao continuar explorando a boa dinâmica entre seus personagens. Isto somado a um plano impossível garante mais uma boa maratona da Netflix, porém, é difícil acreditar que somente as repetições positivas da série consigam ser suficientes para manter a produção no ar durante novas temporadas, principalmente com tantos problemas decorrentes.