Vera (Marieta Severo) está em um embate terrível com a filha Tânia (Laura Castro). A jovem, lésbica e casada, que quer a aprovação da matriarca para ser mãe, mas não vê forma de superar os próprios traumas e o dissabor da relação com a personagem de Marieta, uma mulher atravessada por lutos e dores decorrentes da época em que foi presa política durante a ditadura militar no Brasil. Esse lugar de trincheiras emocionais, de verdades absolutas e também de afeto é o palco onde emoções são encenadas em “Aos Nossos Filhos”. 
 
“Foi muito louco, muito doloroso e também significativo para a minha geração eu fazer essa personagem neste filme”, pontuou Marieta Severo em um dos trechos de divulgação publicados pela distribuidora Imovision.  A cineasta e atriz portuguesa Maria de Medeiros dirige, tendo roteiro de Laura Castro baseado na obra da própria, atriz e dramaturga, que interpreta a filha temporã. 
 
Outros atores e atrizes circulam por entre Marieta e Laura, como José de Abreu, Aldri Anunciação e Marta Nóbrega, mas elas duas dão o tom da própria trama. E essa escolha, talvez por manter o tom da obra literária e da posterior encenação teatral, talvez pese na forma taciturna e cansativa como o filme é dirigido e montado. O ritmo é ora muito solene, ora muito enfadonho.

Os dilemas de Tânia não parecem tão profundos e genuínos como deveriam; ela tem um momento, uma cena onde realmente há uma conexão com o público, quando fala que, na infância, queria proteger a mãe e reter sua atenção. O arco de Vera, ainda que tenha lacunas na construção, desperta mais a atenção até pela maneira com que Marieta Severo a constrói. 
 
Perturbada pela presença/aparição do filho da antiga colega de cela, a mãe relembra a gravidez no cárcere e passa por uma expiação das escolhas e de como certas feridas derivam e criam pústulas na relação com a filha que sobreviveu. Como ela é capaz de se doar mais e ser empática com as crianças do orfanato em detrimento da sua própria criança interior, abatida. 
 
A gravidez de Marta, companheira de Tânia, é atravessada por desentendimentos e algumas obviedades restando “Aos Nossos Filhos” a força da atuação de Marieta Severo e a importância da temática “vivência das mulheres durante a ditadura”. Mas não passa disso em uma obra que poderia ser um filme sensível e duro, ainda que lírico, sobre conflitos geracionais e familiares.   

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