Após mais de uma década, nota-se que os títulos da Marvel Studios podem se dividir em duas categorias: filmes-eventos, aqueles que prometem grandes batalhas e consequências (embora nem sempre as cumpram), e os longas de herói assumidamente despretensiosos. 

A chegada de Taika Waititi (“O Que Fazemos nas Sombras” e “Jojo Rabbit”) no MCU lidava com o cansaço prematuro de Thor, personagem cujo sucesso ainda não havia se equiparado a Homem de Ferro e Capitão América. O neozelandês se encarregou de criar um reboot-temático e, graças a Ragnarok, que aliava humor a uma estética kyrbiana. Chris Hemsworth não apenas encontrou o tom definitivo para o personagem, como também para sua carreira.

Ok, é sem surpresa alguma que “Thor: Amor e Trovão” se enquadra na segunda categoria das produções de Kevin Feige. Também não é novidade notar que Waititi mais uma vez incorpora o melhor de seu cinema para a nova aventura do Deus do Trovão, que após retornar de uma jornada de redescoberta com os Guardiões da Galáxia precisa lidar com Gorr (Christian Bale), o carniceiro dos deuses. 

UM FILME NO MELHOR ESTILO WAITITI

Apresentado na abertura, os primeiros minutos motivam o antagonista e conseguem ser tão eficientes que há de reconhecer o talento de Bale, ator que evoca seu método de drástica mudança física para aqui intimidar. Além do embate entre ambos, Jane Foster (Natalie Portman) enfrenta um câncer, enquanto é a nova herdeira do Mjolnir. O drama de Gorr e o arco de Jane acabam se isolando dentro da aventura colorida de viking espacial regada a Jack Kirby e acabam se fazendo apenas como transições pontuais de uma comédia. 

Nada imprevisível ver o peso dramático do vilão em detrimento do tom farofeiro e festivo do diretor. Porém, conclui-se que é possível culpar Taika? Pós-Ragnarok e conhecendo sua filmografia definida pelo olhar plenamente imaturo, é impossível esperar que o neozelandês abandone sua assinatura para entregar um drama para o MCU à essa altura.

Desconfie de quem busca deslegitimar a direção ou soluções de roteiro. Enquanto honesto com seu próprio material, o novo filme se mostra até esteticamente elevado se comparado a vários filmes do MCU. Mais uma vez aprimorando visuais totalmente inspirados pelas artes de Jack Kirby, os planos de diálogos – que no filme anterior pareciam pouco inspirados – aqui encontra no foco e desfoco da lente uma solução sensata para ofuscar os CGIs em profusão e encontrar melhor a presença dos atores.

WELCOME TO THE JUNGLE

A sinceridade do cineasta chega a ser tão explícita que o longa inicia com narração de Korg (o próprio Taika Waititi) contando a história de Thor para um grupo de crianças asgardianas. Waititi faz questão até de transcrever no roteiro a homenagem ao Guns N’ Roses, além das três ou quatro músicas presentes no filme.

O diretor, que havia inserido em Ragnarok a peça metalinguística recapitulando Mundo Sombrio, novamente trabalha com metalinguagens que reafirmam seus despretensiosos interesses: a versão de Russell Crowe como Zeus é feita como paródia de uma paródia.

Thor: Amor e Trovão pode realmente estar a um rascunho de aparar suas arestas – ou talvez, as cenas deletadas de Christian Bale acabaram comprometendo o desenvolvimento de todo o drama, mas como uma sequência fiel de Thor: Ragnarok, não poderia ter se saído melhor.

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