Alerta de spoiler: a culpa não é do Keanu Reeves. Não creio que seja segredo que o astro de “Matrix” é um ator de talentos limitados, mas é difícil culpá-lo diretamente pelo desastre que acaba sendo “Bata Antes de Entrar”, novo filme de Eli Roth. Tal como seu personagem, a plateia é torturada durante a projeção deste longa que tenta atualizar o tradicional thriller erótico para a geração “millenial”.

Apesar de não constar nos créditos, “Bata Antes de Morrer” é um remake de um filmão B da década de 70 (nome original: “Death Game”) que parte da mesma premissa: homem casado abriga meninas durante uma tempestade e elas, após seduzi-lo, aprisionam e torturam-no.

Ler isto é bem mais divertido que ver: apesar da ideia de Keanu Reeves servir de saco de pancada por uma hora e meia parecer tentadora, ela é rendida inerte por um roteiro que falha em estabelecer qualquer motivação plausível para o que ocorre em cena, ainda que tente consertar as coisas nos minutos finais.

Além disso, o filme é incapaz de fazer com que nos importemos com o destino de qualquer uma de suas personagens – que tenha vindo da mente não de um, mas de três roteiristas (cinco se você contar os dois roteiristas do filme original), é digno de nota.

“Bata” reforça a ideia de que o sucesso de Eli Roth se limita ao seu longa inicial (“Cabana do Inferno”, de 2002) e nos faz implorar que ele finalmente resolva desenvolver a sua melhor ideia desde então: “Thanksgiving”, sobre um assassino que ataca suas vítimas no Dia de Ação de Graças americano, cujo trailer falso o diretor gravou para inclusão no projeto “Grindhouse”, de Robert Rodriguez e Quentin Tarantino.

Achar algo que se salve do filme é complicado para dizer o mínimo, então para esse texto não ficar chato como ele, aqui vai uma lista de “peores” momentos:

Foto 1

O roteiro tenta nos fazer acreditar que um quarentão simplesmente vai começar a emprestar roupas e conversar com garotas que ele acabou de conhecer no meio de uma noite escura. Eles falam sobre gostos musicais e vida sexual. Todos riem. Mesmo dentro da suspensão de descrença que o terror (e o cinema, de forma geral) exige, isso é pedir muito.

Foto 2

Grande parte do problema do roteiro vem da inabilidade em definir qual o viés das suas antagonistas: Elas são paladinas? Elas são agentes do caos? Qualquer uma dessas opções serviria, mas o guião pende de um lado para o outro e, nessa confusão, ele perde a chance de estabelecê-las como ameaça. Resultado: elas abusam da violência física e psicológica, mas não assustam – como na cena da tortura com o fone de ouvido.

Foto 3

O que falar do nosso protagonista, então? Reeves até compra o papel de homem de família com moralidade instável, mas sua frouxidão não compensa. A cena em que ele aparentemente tem toda a condição de resolver o conflito da trama, mas é derrubado com facilidade por uma de suas algozes e torturado com um garfo é de chorar (de raiva).

Foto 4

A arma mais letal do filme é uma bombinha de asma. Próximo.

Foto 5

O monólogo que Reeves dá no último ato do filme compara infidelidade a “pizza grátis”. É sério. Pode ler de novo. Isso aqui é material de Framboesa de Ouro na certa, minha gente. Pensando bem, ao invés de um momento ruim, a cena acaba sendo a melhor coisa do filme inteiro.