O fechamento de um ciclo de quase 30 anos no cinema, em um período onde a gana dos estúdios em promover continuações infinitas está cada vez mais desatada, até que simboliza uma puxada no freio de mão – por enquanto – por parte da Universal, dona de “Jurassic Park” e “Jurassic World”. O terceiro capítulo da franquia reiniciada em 2015 e estrelada pelo insuportável Chris Pratt e a multitalentosa Bryce Dallas Howard (diretora contratada pela Disney), “Jurassic World: Domínio” até ganha muito em charme com o retorno dos maravilhosos Jeff Goldblum, Laura Dern e Sam Neil como o trio de experts em dinossauros que sobreviveram a destruição do parque original. Mas não dá para contar apenas com isso e com a evidente nostalgia quando o estúdio confia a história original e o roteiro a profissionais que preferem remendar do que criar uma peça cinematográfica funcional e nova.

Com tantos remendos de situações já vivenciadas por outros personagens que cumprem inclusive a mesma função dramática ou representam o mesmíssimo arquétipo – cara ambicioso, o mágico ou criador – que tem encontros com o aparentemente inofensivo réptil jurássico de franja no pescoço, o dilofossauro.

Dino carnívoro do período Cretáceo conhecido como “o lagarto gigante no sul” e descoberto em escavações na Patagônia em 1995, o Giganotossauro é a novidade de “Jurassic World: Domínio”. Mas, apesar do Dr. Alan Grant (Sam Neil) afirmar que ele é o maior carnívoro que já pisou nesse planeta, quando se anuncia o embate entre a espécie e a famosa T-Rex da franquia, uma matéria da BBC dá a entender que não é bem assim: o Espinossauro (que apareceu timidamente em “Jurassic Park – Mundo Perdido”) seria o maior carnívoro dentre todos, após a descoberta de um fóssil gigante do réptil no deserto do Saara, chegando a 15 metros de comprimento, corpo mais ágil e mordida mais mortífera.

E o diretor Trevorrow ainda teve a pachorra de declarar, em uma entrevista à Empire magazine, que ele escolheu o Giganotossauro como algoz dos personagens humanos, pois, queria um elemento que fosse parecido com o Coringa, que só quisesse ver “o mundo queimar”. E aí ele acha uma ótima ideia botar o bicho para brincar com um carro que capota e quase abocanhar um e outro, mas terminar sem nenhum lanchinho.

Outra adição é a maravilhosa Wanda DeWise (de “She’s Gotta Have It”, do Spike Lee) como a aviadora Kayla que até tenta mas não tem um roteiro à altura para, com algum desenvolvimento da personagem, marcar sua passagem pela franquia, ficando restrita a algumas tiradas sem graça e a função providencial de piloto de fuga. O drama familiar que tentam forçar entre Owen, Claire e a agora rebelde adolescente de 14 anos Maisie Lockwood (Isabella Sermon) definitivamente não engrena, já que não há química entre as partes, muito menos a conexão que tentam formar entre a menina e a bebê raptor, ambas sequestradas pela BioSyn.

JÁ VI ESSE FILME

Não dá para dizer que Colin Trevorrow não é um fã da franquia, afinal, ele sempre referencia os filmes da série original seja no primeiro Jurassic World ou agora – “Reino Ameaçado” foi comandado por J. A. Bayona. Foi dele a ideia de ter a BioSyn, rival da InGen de John Hammond (Richard Attenborough) como a grande ameaça da série. Mas junto com a roteirista Emily Carmichael (que também escreveu o fraco “Círculo de Fogo: A Revolta”), Trevorrow aciona um mecanismo preguiçoso de usar metáforas como as sete pragas do Egito, tendo como incidente excitante em “Domínio” uma espécie de gafanhoto pré-histórico que se multiplica em velocidade estrondosa e destrói plantações ao redor do globo. Elementar que o bicho foi criado nos laboratórios da BioSyn, mais óbvio ainda que foi pelas mãos do cientista maligno arrependido Dr. Henry Wu (B.D Wong), agora manipulado pelo bilionário mais maligno que ele, Lewis Dodgson (Campbell Scott).

E não demora tampouco para os personagens matarem essa enfadonha charada que consome tempo significativo sem grande interesse. Como é de praxe em vários blockbusters recentes, “Jurassic World: Domínio” tem 2h31 minutos de duração, dos quais pouco menos de 30 minutos são dedicados a mostrar aquilo que não só a sinopse alardeava como o gancho de “Reino Ameaçado”, o tal mundo tomado pelos mais terríveis predadores que já existiram. Essa trama é comprimida e desperdiçada, inclusive com a redução do tempo de tela da dino mais carismática de toda a franquia (junto com a T-Rex), a velociraptor Blue, que agora tem companhia.

Além da reunião do trio formado por Grant, Ellie Sattler e Ian Malcom que tem muito fan service sim, como esperado – o romance que estava no ar desde 1993 se concretiza. E eles emprestam alguma graça a mesma história boba de “estamos presos numa ilha com problemas no sistema de abastecimento de energia/segurança com dinossauros perigosos à solta” já que o tal mundo dominado pelos dinossauros é preterido por Trevorrow e a Universal. A sequência na Ilha de Malta, onde existe um mercado de contrabando de dinossauros, é a melhor coisa desse filme desconjuntado. O brilho de Omar Sy (Sembène), as acrobacias na moto do dublê de Pratt, a Claire de Bryce Dallas Howard fazendo mais coisas inacreditáveis, jamais esperadas de uma ex-executiva do parque temático, que já correu de salto alto da T-Rex, todos perseguidos por dinossauros albinos assassinos, semelhantes aos raptors, é puro suco de “Missão Impossível” com 007 – mas dura pouco.

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