Um tesouro perdido do cinema brasileiro e amazônico acaba de ser reencontrado após mais de um século: “Amazonas, o Maior Rio do Mundo”, obra histórica de Silvino Santos, foi encontrada no início deste ano em um arquivo na República Tcheca. A informação foi publicada nesta semana pelo jornal britânico The Guardian após ser confirmada por pesquisadores italianos e brasileiros, entre eles, Sávio Stoco, da Universidade Federal do Pará. 

“Amazonas, o Maior Rio do Mundo” foi fruto de um trabalho de três anos do pioneiro do cinema na região. O documentário traz, entre outras preciosidades, as primeiras imagens em movimento conhecidas do povo indígena Witoto.  

Segundo o The Guardian, o filme ainda traz close-ups de jacarés, onças e da flora tropical, imagens de rituais indígenas e sequências mais longas mostrando as indústrias extrativas da região como a borracha, castanha-do-pará, madeira e pesca. “O documentário mistura diferentes dimensões do documentário em uma narrativa muito agradável para o espectador”, disse Stoco em entrevista ao jornal britânico.  

Foto: Arquivo Národní filmový, Praga.

“Amazonas, o Maior Rio do Mundo” veio no contexto da criação da Amazônia Cine-Film, primeira produtora de audiovisual da região, em 1918. A empresa, entretanto, não durou muito tempo justamente pelos prejuízos causados pelo documentário: sócio de Silvino, Propércio de Mello Saraiva, ficou responsável pela venda internacional da obra, porém, embolsou a impressão, alegou ser o diretor e assinou de forma fraudulenta um acordo com a Gaumont para distribuir o filme na Inglaterra, onde foi renomeado como “Maravilhas da Amazônia”. De acordo com o The Guardian, a obra circulou com grande aclamação na Europa durante alguns anos, mas em 1931 todos os seus vestígios tinham desaparecido. 

A publicação britânica informa que exibições de “Amazonas, o Maior Rio do Mundo” estão previstas para serem feitas nos próximos meses tanto no Brasil quanto na República Tcheca. “Não tínhamos a menor esperança de que esse trabalho um dia fosse encontrado. É basicamente um milagre”, dimensiona Stoco o tamanho do tesouro reencontrado.