De Sandra Huller a Carey Mulligan, confira as previsões iniciais da categoria de Melhor Atriz do Oscar 2024.

AZARÃES

A Jessica Chastain, premiada em 2022 por “Os Olhos de Tammy Faye”, lançou “Memory” no Festival de Veneza. Os holofotes, entretanto, ficaram mesmo com seu parceiro de cena, o Peter Saarsgard. Com o filme sem ter empolgado tanto assim e a recente vitória dela na categoria, acredito que somente um milagre para colocá-la com algum tipo de chance. 

Exibido no último Festival de Veneza, “Monica” chamou a atenção para o trabalho da Trace Lysette. No drama, ela interpreta uma mulher, longe de casa há 20 anos, voltando para cuidar da mãe doente vivida pela Patricia Clarkson. Um filme pequeno, distribuído pela IFC Films, empresa sem o poderio financeiro de uma Netflix ou Warner… Improvável demais, não? 

Super premiada na TV por “Veep”, a Julia Louis-Dreyfus estrela a simpática dramédia da A24, “You Hurt My Feelings”. Até um carinho da crítica em relação ao filme, mas, longe de ser o suficiente, pelo menos, por enquanto, para chegar ao Oscar 2024. 

E ainda tem a Rosy McEwen, do ótimo “Blue Jean”. Infelizmente, porém, o timing do filme ficou para trás ao ter sido lançado em Veneza no ano passado. A tendência é que seja mesmo esquecida no rolê. 

A Julia Roberts, por “Leave the World Behind”, está neste momento entre as azarães, mas, pode subir dependendo da recepção ao filme no American Film Institute.

E ainda tem a Michelle Williams com “Showing Up”, parceria dela com a Kelly Reichardt. A passagem discreta da produção no último Festival de Cannes, porém, praticamente sepultou qualquer possibilidade. 

CORRENDO POR FORA

Duas atrizes sinônimo de Oscar nos últimos anos terão dificuldades de aparecer na festa do ano que vem.  

Longe da premiação desde 2016, a Kate Winslet teria boas chances com “Lee”, drama sobre a modelo que se tornou uma correspondente de guerra e fotógrafa da Vogue durante a Segunda Guerra Mundial. A passagem da cinebiografia em Toronto, entretanto, mostrou que a atriz britânica tem em mãos um filme para lá de convencional e nada animador. No meio de rivais em produções mais forte, tende a ficar em segundo plano mesmo.  

Apesar da recente vitória da Michelle Yeoh por uma ficção científica, a Saoirse Ronan não deve se animar muito. Estrela de “Foe”, novo filme do Garth Davis, a atriz mantém um pouco de esperança mais pela força do nome do que pelo próprio filme, ainda bem tímido na temporada. 

A Jodie Comer também corre por fora com “The Bikeriders”. Com uma disputa tão pesada aqui pelas cinco vagas, não me espantaria nada ver a 20th Century Studios deslocá-la para coadjuvante para ter alguma chance. 

Quem não vai poder usar este “migué” será a Teyana Taylor, protagonista de “A Thousand and One”. A maior possibilidade para a atriz é a Focus Features investir pesado nela, afinal, é a única possibilidade do estúdio na categoria. Porém, ela corre ainda bem por fora. 

CHANCES MÉDIAS

Hora das candidatas com chances médias no Oscar deste ano. Neste momento, vejo a Natalie Portman aqui. Ainda que “May December” seja um longa para ela e a Julianne Moore brilharem, a forte concorrência na categoria e o filme estar eclipsado dentro da Netflix por “Maestro” atrapalham as possibilidades dela crescerem. O lançamento no fim do ano, a depender da recepção, pode mudar a configuração para ela. 

Aunjanue-Ellis entrou no radar da Academia após “King Richard”, filme pelo qual disputou atriz coadjuvante no ano passado. Agora, ela tenta chegar na categoria principal com “Origin”, drama da Ava DuVernay. Ela foi, de longe, o ponto mais elogiado da produção. Tem potencial de ser surpresa capaz de crescer ao longo da temporada. 

E ainda tem a Helen Mirren com chances médias fazendo a poderosa Golda Meir. O combo é bait demais de premiações, afinal, trata-se de uma atriz prestigiada, vencedora do Oscar, mudando fisicamente para viver uma figura histórica exaltada por muitos. Por outro lado, o delicado xadrez político do Oriente Médio com alas da Academia pró e contra a Israel são elementos delicados demais, capazes de tirá-la do jogo. 

Sim, o Oscar vai muito além de mérito puro e simples. 

GRANDES CHANCES

Os próximos cinco nomes brigam por uma vaga. E está difícil saber quem tem chances. Todas são altas e possuem fortes motivos para estarem indicadas ao Oscar 2024 de Melhor Atriz. 

Vanessa Kirby, Penélope Cruz e Cate Blanchett foram as últimas vencedoras de Melhor Atriz em Veneza. Meses depois, o trio chegou também ao Oscar da categoria feminina principal. A Cailee Spaeny pode manter a escrita com “Priscilla”. Ganhadora na Itália neste ano, ela pode ser a tradicional indicação da Academia para uma jovem em ascensão na indústria em moldes semelhantes a Ana de Armas. 

A Greta Lee também chega forte com “Past Lives”. Ela é o coração e alma do belo e elogiado filme da Celine Song. Ainda joga a favor dela a representatividade asiática na corrida, aproveitando o caminho da recente vitória da Michelle Yeoh.  

A Fantasia Barrino pode mudar o panorama da corrida com “A Cor Púrpura”. A cantora de R&B ganhadora do American Idol quer se juntar a nomes como Julie Andrews, Barbra Streisand e Jennifer Hudson ganhando o Oscar logo no primeiro papel nos cinemas. É um feito raro, sem dúvida, mas a aposta da Warner no longa é tanta que vale observá-la atentamente. Caso a expectativa se confirme, capaz dela virar o jogo. 

Tudo indicava para o Oscar 2024 de Melhor Atriz ir parar nas mãos da Annette Bening. Afinal, é uma das grandes e veteranas atrizes da atualidade ainda sem prêmio. “Nyad”, drama sobre a história travessia de Miami a Cuba feita por uma nadadora com 60 anos no meio do oceano, era o filme ideal para a missão. Porém, o acirramento da categoria e a carinha de uma obra tão protocolar dublando contra grandes e elogiados longas a colocam em sério risco de ser esnobada. 

E ainda tem a Margot Robbie: a estrela de “Barbie” tenta a terceira indicação ao Oscar. A pressão do público e das redes sociais joga a favor dela com a Academia na constante busca por bons índices de audiência. Por outro lado, os votantes podem observar em todo o sucesso da produção e nas chances de vitória do Ryan Gosling em Ator Coadjuvante como suficientes para poder deixá-la de lado. 

Para completar o cenário desfavorável para a Margot Robbie, ainda há a velha história de atuações vindas de comédia não terem preferência em relação aos dramas. Hoje, a “Barbie” dos cinemas está com mais longe de ser nomeada ao Oscar. 

AS FAVORITAS

São quatro as favoritas não apenas às indicações, mas, também para o prêmio. Vamos pela ordem das possibilidades de vitória começando com uma querida do público cinéfilo não muito sortuda no Oscar. 

Depois de chegar perto da conquista com “Bela Vingança”, a Carey Mulligan volta a sonhar com a estatueta dourada por “Maestro”. Em Veneza, a imprensa destacou como a estrela roubou a cena do Bradley Cooper ao fazer Felicia Montealegre, esposa do genial Leonard Bernstein.  

Se o histórico no prêmio e o respeito da indústria jogam a favor dela, não ser a estrela do filme, diferente das demais candidatas, e o predomínio excessivo que a produção poderia ter nas categorias de atuação graças à boa chance do Cooper vencer Melhor Ator dificultam o caminho da Mulligan.  

Para você ter uma ideia, a última vez em que um mesmo filme ganhou as categorias principais de atuação foi em 1998 com “Melhor é Impossível” graças ao Jack Nicholson e a Helen Hunt. Improvável que isso se repita em 2024. 

A Sandra Huller saiu de Cannes consagrada pelo desempenho brilhante em “Anatomy of a Fall”. Somente não ganhou Melhor Atriz pelo fato do vencedor da Palma de Ouro ser impedido de conquistar outros prêmios. A dobradinha com “The Zone of Interest”, que pode render a ela uma nomeação a coadjuvante, mostram como o ano é dela.  

Daquelas crueldades do destino, porém, é o fato da Academia ter uma senhora dificuldade em reconhecer intérpretes de produções de língua não-inglesa em Melhor Atriz. A Sophia Loren, por “Duas Mulheres”, e a Marion Cotillard, por “Piaf”, foram as últimas vezes em que isso aconteceu. Quem sabe a Sandra Huller não quebra este paradigma com o apoio da cada vez mais influente comunidade internacional? 

O duelo maior reúne duas atrizes de alguns dos principais candidatos da temporada. 

A Apple/Paramount fizeram um movimento ousado deslocando a Lily Gladstone para a categoria principal feminina. Diferente, porém, da estratégia da Universal Pictures com a Michelle Williams em “Os Fabelmans” no Oscar deste ano, a mudança pode surtir efeito. O destaque de “Assassinos da Lua das Flores”, elogiadíssima em Cannes, traz a narrativa de poder ser a primeira intérprete de origem indígena dos EUA a vencer Melhor Atriz, além de quebrar um falso estigma de que o Martin Scorsese não traz grandes personagens mulheres em seus filmes. 

Já a Emma Stone foi aclamada por “Pobres Criaturas” até mais do que visto em “La La Land”, pelo menos, junto à crítica. A grande atuação se junta à coragem da estrela em aparecer nua e fora do comum daquilo que nos acostumamos a vê-la, algo sempre admirado na indústria. Por outro lado, será que a Academia estaria disposta a dar a segunda estatueta na categoria para a estrela de apenas 34 anos, algo ainda não obtido, por exemplo, por Cate Blanchett e Kate Winslet? 

Li um artigo bastante interessante no Next Best Picture que fala sobre esta corrida ser fundamental para Melhor Filme, pois, ajuda a definir quem está no posto para confrontar “Oppenheimer”. Concordo em partes, pois, na minha visão, roteiro adaptado deve ser o grande termômetro da corrida. De qualquer maneira, tudo que cerca a Lily Gladstone a coloca ligeiramente à frente da Emma Stone. 

SE AS INDICAÇÕES FOSSEM OS HOJE, OS FINALISTAS SERIAM…

  • Emma Stone, por “Pobres Criaturas” 
  • Lily Gladstone, por “Assassinos da Lua das Flores” 
  • Carey Mulligan, por “Maestro” 
  • Sandra Huller, por “Anatomy of a Fall” 
  • Annette Bening, por “Nyad” 

Surpresa: Cailee Spaeny, por “Priscilla”