“As Filhas do Fogo” assombra o espectador com um lamento sobre separação e, sobretudo, sobre a crueldade do capitalismo. O curta do realizador português Pedro Costa é sufocante ao apresentar três vozes que cantam, cada uma em um ritmo, a mesma canção.  

Em uma tela dividida, cada uma delas canta a feiura daquele dia e o sofrimento do trabalho e de ter que começar de novo. Viver não é o equivalente a sobreviver, afinal.    

Um grito de socorro de três irmãs cabo-verdianas separadas em meio à erupção do vulcão Fogo. Uma claustrofobia expressa também na fotografia escura, iluminada apenas pelas chamas e pelos destroços do próprio vulcão.  

O canto vai de “Um dia saberemos porque sofremos e o mistério acabará” para a dureza da realidade: “Ninguém vai lembrar de quem éramos”. Os mortos não podem responder. O que fica é a paisagem. A terra fica para ter sua história contada. Elas não.