Há uma simplicidade na forma como a trama de “Folhas de Outono” se desenvolve. No filme do finlandês Aki Kaurismakï, os paralelos estão sempre em trânsito, com dores que não param de pulsar mesmo quando a vida parece dar uma trégua e oferecer algumas risadas.  

O que se vê na tela é uma crônica sobre a solidão forçada pelo capitalismo. Tanto Ansa (Alma Pöysti) quanto Holappa (Jussi Vatanen) estão longe de ter a vida dos sonhos quando têm seus destinos cruzados. Na verdade, eles nem têm o direito de sonhar, porque a vida não espera – e vida, nesse caso, é uma metáfora para o (nada) bom e velho boleto mesmo.  

Após passarem o dia (e/ou a noite) trabalhando em condições insalubres, os protagonistas vão para suas respectivas casas e encontram o vácuo da solidão, preenchido apenas pelas notícias da guerra na Ucrânia, que saem pelas ondas do rádio. É justamente quando se permitem deixar um pouco esse mundo cão que se encontram.   

SENTIMENTOS COMUNS A TODOS NÓS 

É um meet cute que rivaliza com os grandes romances que amamos: uma troca de olhares seguidos de alguns reencontros inesperados e meios desajeitados e, enfim, um convite para sair. Na tela, rimas de duas vidas tristes: demissões, vacilos, vícios e tragédias pessoais que impedem o vislumbre de um final feliz.  

Nada que parece tão fácil é assim para quem é de carne e osso. E é aí que o reencontro se torna um desencontro trágico o suficiente para rivalizar com os melodramas mais dolorosos do cinema – eu, por exemplo, só pensava em ‘Tarde Demais Para Esquecer’, filme de 1957 dirigido por Leo McCarey e estrelado por Deborah Kerr e Cary Grant.  

“Folhas de Outono” é um filme sobre duas pessoas que acham que se acostumaram com a solidão. A intensidade de Kaurismakï em cada cena é sentida de uma forma que nem nos tocamos que os protagonistas nunca se apresentaram de fato. No fim das contas, estamos tão à vontade que nem pedimos, já nos sentamos no sofá e pedimos uma música para cantar no karaokê enquanto o casal principal se entreolha. Em tempos de tramas mirabolantes, é reconfortante entender e se perceber em sentimentos tão comuns a todo mundo quando vistos em uma tela de cinema.