Mesmo com um universo todo construído ao longo dos anos e podendo contar com fiéis seguidores, o primeiro spin-off de “Velozes e Furiosos” chegou aos cinemas cercado de desconfiança. Tudo porque os dois últimos filmes da turma de Dominic Toretto (Vin Diesel) foram um completo desastre, salvo apenas pela homenagem póstuma a Paul Walker.

Para a alegria dos fãs de “Velozes e Furiosos” ou para quem curte apenas um bom filme de ação, ‘Hobbs & Shaw’ faz uma bela homenagem ao espírito original da franquia, ressuscitando o carisma e química entre os protagonistas. A superprodução fornece ainda uma trama linear dentro de sua proposta, despertando o prazer do coletivo e capaz de renovar os valores principais da franquia: família, amizade, trabalho em equipe e, é claro, MUITAS cenas de ação e pancadaria.

Para quem se cativou com a bonita amizade entre o policial Brian O´Conner e o criminoso Dominik (Vin Diesel) em 2001, vai sentir uma leve nostalgia ao mergulhar na vida e nos dramas familiares das figuras já conhecidas, o agente federal Luke Hobbs (Dwayne Johnson) e do mercenário britânico Deckard Shaw (Jason Statham). A dupla, que não se suporta, é obrigada a trabalhar em conjunto para localizar a agente do MI6 Hattie (Vanessa Kirby), falsamente acusada de matar sua equipe e injetar em si própria um vírus mortal. Durante a caçada, Hobbs e Shaw se deparam com o terrorista cibernético Brixton (Idris Elba), um criminoso com força e reflexos sobre-humanos.

Nas mãos do experiente diretor David Leitch (“John Wick” e “Atômica”), “Hobbs & Shaw” é claramente superior e mais elegante que seus antecessores. Com uma fotografia e enquadramentos sofisticados, bela direção de arte e montagem cirúrgica, principalmente, nas cenas de lutas, a trama empolga do início ao fim. Leitch sabe como ninguém fazer a apresentação de seus personagens de maneira rápida e eficaz. Com o uso da split screen (técnica de dividir a tela pela metade), o diretor traz Hobbs com uso de uma fotografia amarela, remetendo ao aconchego e calor de seu personagem. Ao introduzir Shaw, a cor passa a ser um azul, expondo a figura fria e sombria do mercenário. Fica claro aqui que um é mais sofisticado e outro mais grosso em seus modus operandi, porém, ambos se completam de alguma forma.

ELBA E REFERÊNCIAS: GRANDES DESTAQUES

O carisma dos protagonistas e a adição da agente Hattie, uma personagem forte, ágil, letal, uma verdadeira badass, dão um toque todo especial a trama, fazendo com que espectador perdoe o roteiro repleto de falhas de Chris Morgan e Drew Pearce. A dupla utiliza todos os artifícios clichês da franquia, acertando apenas quando casa ação e comédia. Por falar em furos de roteiro e absurdos, já não é de hoje que os filmes da franquia têm um universo próprio, onde algumas leis da física e da lógica não se aplicam. Como o cinema é arte e assim, livre para nos fazer sonhar, as cenas frenéticas e irreais de “Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw” não incomodam (muito).

Repleto de referências à cultura pop, desde “007”, “Game of Trones” até o recente “Batman vs Superman”, Leitch utiliza dos mesmos artifícios narrativos do filme de super-heróis para desenvolver seus personagens, desde a rivalidade dos protagonistas, até o motivo que levam a dupla a se unir. O vilão de Idris Elba é bom e muito disso se deve a dedicada interpretação do ator. É nítido que ele se diverte no papel, sendo o único problema as suas motivações rasas, que não convencem nem se sustentam até o desfecho.

David Leitch só perde o controle quando usa excessivamente a rivalidade de “Hobbs & Shaw” e também na duração do filme. Vinte minutos a menos teriam feito diferença. No mais, “Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw” acende uma luz de esperança nos corações dos fãs da franquia. Para um filme sem pretensões, ele entrega uma boa diversão. E, após três cenas pós-créditos, temos certeza que a trama ainda tem muito fôlego para continuar e, com qualidade.

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