Mais do que realmente um filme, este Jerk, da diretora e coreógrafa francesa Gisèle Vienne, é um experimento curioso e, principalmente, estranho e desagradável. A produção, disponível na plataforma de streaming Filmicca, é um show de um homem só, filmado em plano-sequência, no qual vemos um artista dramatizar, inicialmente com fantoches, depois apenas com ele mesmo, assassinatos reais que realmente aconteceram no Texas, Estados Unidos, na década de 1970. E é só isso: a coisa toda dura uma hora.

O caso real é escabroso e considerado um dos mais terríveis envolvendo serial killers (assassinos em série) da história dos EUA: Dean Corll (1939-1973) raptou, estuprou e matou 28 adolescentes e jovens nas cidades texanas de Houston e Pasadena, entre 1970 e 1973. Ele cometia os crimes com a ajuda de dois cúmplices, David Brooks e Wayne Henley, à época também adolescentes. Quem quiser conhecer mais sobre o caso, pode clicar aqui.

O filme Jerk é a versão filmada do espetáculo desenvolvido por Vienne e o artista francês Jonathan Capdevielle. No início, ele se apresenta ao público, exibe sua camiseta com a frase “a humanidade é superestimada” e diz que vai interpretar Brooks numa reconstituição imaginária de alguns dos assassinatos. O que se segue é alternadamente bizarro, engraçado, triste e sombrio. Capdevielle usa fantoches – com direito a vozinhas esquisitas – para encenar os crimes, começa a simular um ato sexual com o próprio braço, faz barulhos com a boca e cospe e baba num espetáculo que é tão visceral quanto estranho. Tudo acompanhado por uma trilha sonora ora discreta, ora perturbadora.

O objetivo é o desconforto, sem dúvida, mas o artista encontra alguns momentos de humor bizarro no meio do seu ato, que acabam despertando algumas risadas aqui e ali. Mas é claro que Vienne e Capdevielle e a equipe do filme querem oferecer uma experiência ao espectador, uma que na visão dos artistas é uma resposta plausível à loucura e ao horror dos fatos reais.

Não é um filme para todos, e para o qual os termos “bom” ou “ruim” não se aplicam. Mas para quem tiver disposição para uma proposta experimental e uma mistura inusitada de teatro com cinema, Jerk tem seu interesse. Numa nota pessoal, até consigo admirar a experiência à distância, mas teria medo de encontrar com Jonathan Capdevielle no meio da rua. O cara é esquisito, e qualquer um que assistir ao menos os primeiros cinco minutos de Jerk vai demorar para esquecê-lo.