É difícil entrar no espírito certo para assistir ao curta “O Menino, A Toupeira, A Raposa e o Cavalo”. Logo de cara, percebemos a presença forte do material original, um livro infantil homônimo. E dá pra entender também como aquela história pode até funcionar como uma historieta para ninar crianças. Já como filme, são outros quinhentos. 

Porque, a não ser que você realmente seja uma criança que ainda está por descobrir o mundo (nesse caso, não sei o que está fazendo aqui lendo o Cine Set, mas agradeço!), o filme não oferece muito para nosso interesse. Sim, o estilo de animação é bonito, mas nada que, digamos, “O Conto da Princesa Kaguya” já não tenha feito de forma melhor e mais completa. O que sobra, então, além das vozes de Gabriel Byrne (a toupeira), Idris Elba (a raposa) e Tom Hollander (o cavalo) na dublagem? 

Bom, uma série de frases de efeito e pequenas lições de vida sobre amor e companheirismo, a grandiosidade do mundo, a necessidade de superar nossos medos, a importância de dizer “eu te amo”, ser honesto e não sentir culpa. Tudo disparado incessantemente como uma metralhadora giratória de positividade e em uma velocidade tal que o único resultado possível é o enfado – um sufocamento pela fofura. 

Assim, quando a toupeira dispara um “nada supera a gentileza”, a gente já começa a olhar de soslaio. Quando, logo depois, solta um “há tanta beleza para cuidarmos”, sacamos que o filme está puxando suas cordinhas melosas sem nenhuma vergonha. Mas é quando o garoto lança, sem rodeios, um “nós só podemos ver nosso exterior, mas quase tudo acontece no interior”, fechando essa sucessão vertiginosa de frases de efeito, que o caldo entorna de vez. 

O efeito é o mesmo de ter seu nariz enfiado em um buquê de flores de perfume sufocante – não tarda muito pra rinite começar a atacar. É verdade que a chegada da raposa adiciona, inicialmente, uma bem-vinda dose de maldade à jornada do menino (cortesia da performance assustadora de Idris Elba); mas o curta termina por ser bonitinho demais, fofinho demais, menos um filme do que uma coletânea de pseudo-lições de vida. 

Portanto, se você não é uma criança (e caso seja: sério, o que está fazendo aqui?!), ou se já passou pelo menos cinco minutos lendo posts no Pensador.com, não vejo o que possa ser de interesse aqui. Pelo menos é curto.