“Nimona” parece um filme de fantasia convencional, a julgar pela introdução: um livro antigo é aberto enquanto uma voz narra a luta de uma tal de Goleth contra aquilo que é vagamente chamado de “monstro”. Tudo tradicional e genérico.

Mas aí, uma surpresa: o filme salta 1000 anos no tempo. Estamos agora em um híbrido entre o sci-fi e o fantasioso. E aos poucos, “Nimona” revela sua preocupação em fugir, justamente, dos estereótipos tradicionais.

Ficamos conhecendo um pouquinho melhor aquele mundo. Os preparativos para a nomeação dos novos cavaleiros do reino são transmitidos como um grande reality. Ballister (Riz Ahmed, no original) está prestes a receber as honrarias. Por outro lado, ele ainda é visto com desconfiança pelo povaréu; é que Ballister, caso excepcional, não vem de nenhuma família nobre.

Outro desses heróis é o esdruxulamente batizado Ouropelvis. Detalhe: Ballister e Ouropelvis estão apaixonados um pelo outro. Tudo parece estar indo bem até que, por uma tramoia terrível, Ballister é incriminado de matar a rainha.

Isso tudo antes que a Nimona, que dá título ao filme, tenha aparecido. A dita cuja surge na porta de Ballister certa feita, disposta a ajudá-lo a se tornar um verdadeiro vilão. Mas, para o azar da delinquente juvenil, tanto Ballister é inocente como ela mesma não é lá tão malvada assim. As aparências, aliás, tendem a enganar nesta história: é que Nimona logo se revela uma shapeshifter.

AHMED E MORETZ COMPROMETEM

Estão postas as peças no tabuleiro de um filme que pretende alegorizar as fake news, o ódio coletivo e a aceitação. Suponho que seja bacana que essa seja a espinha dorsal de uma animação atualmente no Top 10 da seção infantil da Netflix. Por outro lado, não me parece justo julgar “Nimona” pelo que ele intenciona ser ou pelo que ele quer dizer, mas sim pelo que ele é.

E o que “Nimona” é, antes de mais nada, é um filme com um visual bem chinfrim. Há uma espécie de pseudo-2D computadorizado aqui que não só é feio de olhar, como dá uma cara barata para o filme. Pena, porque o mundo no qual o longa se passa parece ter sido ricamente imaginado.

O segundo grande problema não é específico apenas deste filme. Essa mania de usar personalidades hollywoodianas para dublar personagens animados raramente dá certo. Mas, depois que Hollywood conheceu o Gênio da Lâmpada, dublado por Robin Williams em “Aladdin”, o estrago foi feito.

Aqui, Chloe Grace-Möretz e Riz Ahmed emprestam suas vozes a Nimona e Ballister, respectivamente. Os dois atores, indubitavelmente talentosos no que tange ao live action, soam convencionais demais em um desenho animado – melhor dizendo, naturalistas demais. Ahmed soa, na melhor das hipóteses, deslocado naquele mundo de fantasia e, na melhor, sem saco. Já Grace-Möretz não tem a energia maníaca que a personagem obviamente exige na maneira como foi animada.

Uma pena. De todo modo, o Top 10 infantil da Netflix poderia estar muito pior, sem dúvidas.