“Assassinos da Lua das Flores”, novo projeto do diretor Martin Scorsese, é um drama de proporções épicas, que usa a roupagem do faroeste para falar sobre ganância, racismo, e opressão nos Estados Unidos. Exibido no Festival de Londres, o filme tem dificuldade em sustentar o tempo de duração apesar de sua aterrorizante e hipnótica trama. 

A produção acompanha os assassinatos de membros do povo Osage, que aconteceram descontroladamente no estado americano do Oklahoma na década de 1920. Na época, os Osage estavam entre as pessoas mais ricas do planeta, pois, suas terras tinham vastas reservas de petróleo. No entanto, o sistema racista que lhes amordaçava os tornavam vítimas perfeitas para a elite branca das redondezas.  

É nesse contexto que o ex-soldado Ernest (Leonardo DiCaprio) chega à região. Seu tio William (Robert De Niro), um poderoso local, rapidamente o introduz aos esquemas escusos para roubar recursos dos Osage e o induz a um casamento oportunista com a indígena Mollie (Lily Gladstone). Isso desencadeia uma sequência trágica de crimes que expõe a ganância genocida do desenvolvimento americano. 

DILEMA MORAL 

Em uma entrevista à revista Time, Scorsese disse que o roteiro, assinado por ele e Eric Roth (“Forrest Gump”), foi completamente reescrito durante a pré-produção do filme para que ele não fosse “todo sobre os caras brancos”. Ainda assim, mesmo sem centrar a narrativa na eventual investigação federal que desmascarou o esquema, o cineasta claramente coloca os brancos Ernest e William em primeiro plano.  

Verdade seja dita, a produção retrata os Osage como um povo astuto, com plena consciência da consciência de sua situação. A obstinação em rebatê-la é o que traz o então nascente FBI para o Oklahoma. A expansão na trama também dá a Lily Gladstone a oportunidade de brilhar como Mollie. A performance cheia de nuances aqui pode lhe render uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz em 2024. 

No entanto, o diretor está mais interessado na moralidade duvidosa de Ernest e a relação subserviente com William. O personagem de DiCaprio é um sujeito estúpido, covarde e facilmente influenciável – uma atípica escolha para um protagonista. O aspecto mais cativante é seu dilema moral: ele ama Mollie, mas sabe que terá que matá-la eventualmente para realizar o plano de sua família. 

RETRATO DE UM GENOCÍDIO 

Esse material poderia render um grande suspense psicológico ou um faroeste cheio de adrenalina, mas Scorsese opta por uma abordagem atmosférica que faz “Assassinos da Lua das Flores” se arrastar durante bons trechos de suas longas 3h30. Quando o FBI finalmente chega, depois de pouco mais duas horas de projeção, a investigação corre tão facilmente que o público fica a se perguntar a razão do filme se delongar tanto. 

“Assassinos da Lua das Flores” toca em vários temas clássicos da filmografia de Scorsese – entre eles, ambição, família, lealdade, e violência – e tem muito a dizer a sociedades que experimentam um racismo renovado, como os Estados Unidos e o Brasil. No entanto, em seu atual estado, é o retrato de um genocídio em câmera lenta que desafia o público mais do que o comove.