Os sinais começam logo cedo: após a ensolarada sequência de créditos iniciais em tons pastéis de “O Cara da Piscina”, há uma cena em que Darren (Pine) e Susan (Jason Leigh) conversam na cama. Já vimos essa cena antes em um número incontável de filmes: deitados lado a lado, olhando para o teto, os dois travam um diálogo absolutamente trivial. O curioso é o que acontece na montagem: uma enxurrada de cortes inunda esse momento absolutamente trivial, orientada por uma escolha aparentemente aleatória de planos. Está claro que não estamos nas mais hábeis das mãos. 

Pine está fazendo aqui a estreia como diretor, além de servir de produtor e roteirista de “O Cara da Piscina”. O porquê de ter escolhido logo este como seu projeto dos sonhos é um mistério. Estamos numa daquelas farsas neo-noir regadas pelo sol de Los Angeles, com um protagonista perdedor (pense em “O Perigoso Adeus”, “O Mistério de Silver Lake”, “Vício Inerente”, todos filmes incomensuravelmente mais bem sucedidos que o longa de Pine). Darren é o servente do título, e Pine se vale do recente visual barbado de seu xará australiano, Hemsworth, no recente “Furiosa”, como máscara atrás da qual Darren esconde seu intenso narcisismo. 

O sujeito é um pseudo-Erin Brockovich que faz da sua razão de ser atazanar a Câmara Municipal. Fica claro que Pine está se divertindo testando os limites do seu carisma: o quanto o astro consegue se “enfeiar” e “emburrecer” antes de perder o espectador de vez. A grande piada do filme é que Darren é um perfeito idiota. E a piada cansa incrivelmente rápido.

O pontapé inicial da plot envolve um esquema que incrimina um antagonista político de Darren – pense em “Chinatown”, referência ainda mais direta para “O Cara da Piscina”. Fica óbvio para todos logo de cara que nada é o que parece – para todos menos Darren, que se deixa enganar ao cair em uma teia muito além da sua simplória compreensão. Enquanto isso, o tom farsesco se mostra óbvio e ineficaz: o filme não é nem engraçado o suficiente, nem engenhoso no modo como articula as maquinações da trama. Nem mesmo uma pletora de astros caridosos – Annette Bening, Danny DeVito, Jennifer Jason Leigh – pode fazer muito para manter nosso interesse. O que resta é justamente isso: nosso tédio e a lembrança de filmes melhores.