O ano é 1967. Você está no conforto do seu lar com seus amigos, familiares, vizinhança, porém, acompanhando ao vivo os desdobramentos do terror causado pela Guerra do Vietnã (1955-1975). Lá estão colegas, jovens como você, voltando para casa somente para serem sepultados. Há diversos sentimentos envolvidos. E o que você faz?

A) continua vivendo, bebendo e indignado com a situação;

b) decide ir à guerra sem treinamento algum apenas para levar cervejas aos seus amigos que estão se “arriscando pela pátria”;

c) sai às ruas em protesto?

Bom, se você achou a opção “b” absurda, saiba que isso realmente aconteceu. Uma história tão pitoresca que chega a ser surreal, “Operação Cerveja” estreou no Apple+ sob a ótica sempre espirituosa de Peter Farrelly (“Quem Vai Ficar com Mary?”, 1998), lançando seu primeiro filme desde os dois Oscar de Melhor Filme e Roteiro Original pelo duvidoso “Green Book: O Guia” (2018).

São diversos caminhos que Farrelly nos leva por entre essa desventura em série. “Operação Cerveja” não é sobre a guerra em si, mas muito mais sobre as atividades e comportamentos que são desencadeados a partir desse transtorno, para dizer o mínimo. Há um misto de patriotismo onipresente em quaisquer filmes com teor de guerra, todavia, há também uma sensação de desculpas tardias e não podemos deixar de fazer um paralelo com a guerra da Ucrânia que está acontecendo neste exato momento.

ENTRE A CASA E O TRAUMA

Os planos mirabolantes de Chickie (Zac Efron em boa atuação) na busca para entregar cervejas aos seus amigos em plena guerra e os perigos que os cercam são de fato surreais e arranca até umas boas risadas – embora a transição das partes consideradas engraçadas (e aí é um eufemismo, afinal, não há alívio cômico em uma situação dessas) para a parte mais dramática para depois voltar à leveza são rupturas drásticas que pode gerar certa confusão aliado ao fato de “Operação Cerveja” ser longo, pouco mais de 2h.

A grande questão que Farrelly quis imprimir é a lealdade e a coragem de ir a um lugar tão inóspito apenas para levar uma cerveja aos seus amigos. Mas não é apenas uma cerveja; é parte da vida, o sentimento de casa e conforto. Mas o trauma existe e compõe esse cenário de destruição, morte e caos. Como saborear quando você tem que matar para sobreviver e a custo de quê e para quem?

Farrelly usa também do poder da imprensa, representado por Russell Crowe, na condução das narrativas que chegam ao EUA. Os jornalistas vivem aquele caos e precisam contar o que de fato acontece, mascarar a guerra quando se perde vidas de civis, crianças e seus companheiros de profissão, o que nunca deveria ser uma opção.

MUITOS CAMINHOS

São muitos princípios que são alocados em “Operação Cerveja” que não se desenvolve por completo. Parece mais um jogo de atenção de Farrelly para que se possa captar a mensagem.

Seja por tudo que já foi citado, seja pela questão dos conflitos entre as tropas americanas que colocam o terror para incitar mais ainda a violência e destruição entre os rebeldes e nativos. Há também um amadurecimento tardio de um jovem adulto que se comportava como um adolescente que, diante da realidade, bruta, crua e sem misericórdia, teve que crescer na marra para aprender que há muitas questões para além de sua bolha, do seu umbigo e do seu país. Nem sempre estamos do lado certo, pois o poder também é sobre alienação patriótica.

“Operação Cerveja” é inspirado no livro homônimo em inglês, “The Greatest Beer Run Ever” (2017) escrito pelo próprio John “Chickie” Donohue e Joanna Molloy e já está disponível no catálogo da APPLE TV+.