Narrativa.  

Eis uma palavrinha chata, mas, necessária para entender o Oscar. Afinal, contar com uma boa história de superação ou injustiça pode levar um figurão de Hollywood a vencer a tão cobiçada estatueta dourada.  

A história do Oscar está recheada delas e isso, com certeza, se repetirá em 2023. 

De Margot Robbie a Steven Spielberg, confira as principais narrativas dos candidatos ao Oscar 2023 rumo à premiação.

GRANDES ESTRELAS NUNCA PREMIADAS 

Sabe aquele grande nome do cinema mundial que empilha uma série de grandes trabalhos, mas, nunca saem do zero no Oscar?

Esta é uma narrativa que já favoreceu gigantes como Geraldine Page, Al Pacino e Leonardo DiCaprio. 

Ainda que sem esta magnitude, há nomes que se encaixam nesta categoria.  

Michelle Williams é o exemplo mais forte: afinal, ela soma quatro nomeações – “Brokeback Mountain”, “Namorados Para Sempre”, “Sete Dias com Marilyn” e “Manchester à Beira-Mar“.

Até agora, entretanto, não veio o tão sonhado Oscar, enquanto o Emmy a consagrou por “Fosse/Verdon”.

“Os Fabelmans” chega como a principal oportunidade da carreira de acabar com este jejum incômodo para a Academia, afinal, a atriz norte-americana é uma das melhores de sua geração ainda sem ter sido consagrada. 

Emendando um filme de Oscar atrás do outro, a Margot Robbie está lutando desesperadamente pela estatueta não é de hoje. 

Após belos cartões de visitas com “O Lobo de Wall Street” e “A Grande Aposta” e ter se mostrado uma atriz capaz de carregar blockbusters como provou em “Esquadrão Suicida”, a Robbie foi nomeada a Melhor Atriz pela primeira vez pelo excelente desempenho em “Eu, Tonya”.

Antes da segunda nomeação por “O Escândalo”, teve a oportunidade, sem sucesso, de voltar à premiação em “Duas Rainhas” e “Era uma vez em Hollywood”.

Neste ano, joga todas as fichas em “Babilônia” após o fracasso de “Amsterdam”. 

E a Michelle Williams pode ajudar a Margot Robbie a ganhar este Oscar. Isso porque a estrela de “Os Fabelmans” migrou para Melhor Atriz, deixando um vácuo em coadjuvante.

Com isso, a futura Barbie está na fila para ocupar o posto de favorita.

Há quem alegue fraude de categoria, mas, a Paramount Pictures não vai querer saber disso se tiver a possibilidade de vitória. Tem boas chances dela sair vencedora sim. 

Temos ainda o Colin Farrell: o galã sempre foi muito prestigiado na indústria trabalhando com grandes nomes como Oliver Stone, Joel Schumacher, Woody Allen, Sofia Coppola, Yorgos Lanthimos, Michael Mann e por aí vai.

Nem mesmo algumas bombas ou polêmicas foram suficientes para diminuir a força dele.

Em 2022, vive o melhor ano da carreira com “Batman” e, principalmente, “The Banshees of Inisherin”, ao lado do seu parceiro preferido, Martin McDonagh.

O prêmio em Veneza foi uma demonstração da força dele nesta temporada.  

Mas, para vencer, o Farrell terá que superar uma narrativa tentadora para a Academia. 

A VOLTA POR CIMA 

Ingrid Bergman, Ben Affleck e Renée Zellweger.  

Estes são alguns premiados que estavam vivendo momentos muito complicados em suas vidas, mas, voltaram aos momentos de glória na indústria graças ao Oscar.

A volta por cima é uma narrativa que a Academia nunca deixa de lado e, em 2023, coloca o Brendan Fraser como franco favorito a Melhor Ator. 

Carismático e versátil, o Brendan Fraser explodiu no fim dos anos 1990 com “George, o Rei da Floresta” e “A Múmia”, divertidos sucessos de bilheterias.

Paralelo a isso, protagonizou importantes filmes como “Deuses e Monstros”, “O Americano Tranquilo” e o oscarizado “Crash”.

O astro, entretanto, perdeu espaço após uma série de obras sem maior repercussão e ter sido considerado um nome malvisto na indústria.  

Tempos depois, Fraser explicou o motivo: um assédio sofrido por ele cometido por Philip Baker, então presidente da Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood, a entidade organizadora do Globo de Ouro.  

“The Whale” é a volta por cima como provou os aplausos entusiasmados vistos no Festival de Veneza e a celebração popular nas redes sociais. Uma vitória no Oscar seria o fecho de ouro deste ciclo. 

Em menor escala, está a Jamie Lee Curtis.

Conhecida como a Rainha do Grito pela série “Halloween”, a atriz nunca chegou a estar em baixa na carreira como provam sucessos como “Um Peixe Chamado Wanda”, “True Lies” e “Sexta-Feira Muito Louca”.

Ainda assim, ela também nunca foi levada à sério a ponto de ser indicada ao Oscar. “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” oferece esta oportunidade e, com a corrida de coadjuvante, totalmente em aberto, não dá para descartar que uma vitória.  

A Jamie Lee Curtis também poderia estar na próxima categoria. 

 GRANDE CHANCE DE VETERANOS 

Sabe aquela dívida pesada que fica na tua mente e você só relaxa quando consegue quitá-la?  

Isso também acontece no Oscar quando grandes nomes do cinema chegam a uma certa idade sem a estatueta. Logo, qualquer oportunidade é uma chance de ouro.

Esta novela já foi vista com lendas como John Wayne, Henry Fonda e Jessica Tandy.  

A categoria de Melhor Ator Coadjuvante encontra dois nomes que se encaixam neste perfil. 

Nomeado apenas uma vez por “Gente Como a Gente”, o Judd Hirsch traz uma carreira mais constante na TV ainda que tenha feito filmes de sucesso como “Independence Day”.

Com 87 anos, o veterano pode voltar ao Oscar e, desta vez, com chances de vitória por “Os Fabelmans”.

Quem viu o filme diz que ele rouba todas as cenas, logo, é um nome forte para uma disputa ainda aberta. 

O Brendan Gleeson, entretanto, também está firme na briga pela estatueta.

Ainda que possa ser apontado como fraude de categoria por dividir o protagonismo com o Farrell, o britânico encontra o papel de uma vida para, finalmente, ser nomeado ao Oscar.

Discreto, o ator possui passagens por importantes filmes como “Coração Valente”, “Gangues de Nova York”, “Cold Mountain”, “A Vila”, “Na Mira do Chefe”, além, claro, da série “Harry Potter”. 

CHEGOU A HORA 

Lembra do Galvão falando que “vai se criando um clima”? 

É uma expressão que cai como uma luva para o Steven Spielberg: o gigante de Hollywood está há mais de duas décadas sem levar Melhor Filme e Direção.

Isso tudo mesmo sendo um cineasta que não para por um segundo sequer e já disputou Oscar diversas vezes neste ínterim. 

Acredito que a Academia veja em “Os Fabelmans” a oportunidade perfeita para dar a terceira estatueta a ele. 

O Martin McDonagh também entra neste time de que chegou a hora de ser premiado.

Afinal, após ter sido nomeado de forma surpreendente por “Na Mira do Chefe” em Roteiro Original, amargou uma esnobada sem explicação a Melhor Diretor por “Três Anúncios por um Crime”.

Ganhar, pelo menos, roteiro com “Inisherin”, seria uma forma de compensar e reconhecer um nome prestigiado da indústria atual. 

 

Com dois Oscars na estante de casa, a Cate Blanchett pode ter esta narrativa em 2023.

Parece estranho, mas, cá entre nós, se algum nome se tornou unanimidade pela crítica e público entre as intérpretes mulheres foi a australiana.

Com “TÁR” sendo considerado por muitos a melhor atuação da carreira dela, a Academia pode ser ver tentada a premiá-la de novo. 

 REPRESENTATIVIDADE 

E chegamos a um fator que cresceu demais nos últimos anos, especialmente, graças aos movimentos do #MeToo e do #OscarSoWhite.

Infelizmente, o discurso ainda não foi tanto para a prática. A narrativa a favor da Danielle Deadwyler prova isso. 

93 mulheres brancas para uma negra. Este é o saldo das vencedoras em Melhor Atriz.

Logo, a pressão em cima da Academia para diminuir este absurdo estatístico e histórico continua e a estrela de “Till” pode ser o nome da vez para se juntar a Halle Berry.

A aclamação no Festival de Nova York colocou a Deadwyler como forte candidata à categoria.  

Deadwyler, porém, não é a única que pode quebrar uma sina histórica da Academia. 

Michelle Yeoh, de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, pode ser a primeira atriz de origem asiática a vencer a categoria.

Até hoje, somente Miyoshi Umeki, por “Sayonara”, Yuh-Jung Youn, de “Minari”, foram as ganhadoras vindas do Oriente – isso em Atriz Coadjuvante.

Uma possível vitória, além de um aceno popular, também seria uma forma de valorizar um mercado cada vez mais importante para Hollywood. 

Para completar, temos a Sarah Polley, de “Women Talking”.

A diretora de um dos filmes mais elogiados da temporada pode aproveitar o bom momento feminino na categoria após as vitórias da Chloé Zhao e Jane Campion.

Quem sabe ela não mantém a força das mulheres nestes anos 2020?