Adiado diversas vezes, o lançamento de ‘Novos Mutantes’ finalmente foi realizado nos cinemas, diferentes das suposições sobre a produção ir direto para o streaming como ‘Mulan’, ‘Artemis Fowl’ e tantos outros títulos do estúdio Disney. Com uma divulgação limitada devido a pandemia da Covid-19, o filme tomou como principal fama a indecisão de sua estreia e as críticas negativas dos países onde ele conseguiu ser lançado, sendo considerado ruim por tabela.
A grande verdade é que apesar de não ser um filme memorável nem ter um roteiro dos mais interessantes, no contexto dos longas da franquia ‘X-Men’, pelos menos, ‘Novos Mutantes’ não chega a ser o pior da lista.
RETROSPECTIVA DE IDAS E VINDAS
Antes de falar sobre o filme em si, vamos recapitular como o longa foi adiado tantas vezes no decorrer de dois anos e entender como ele parece ser pior do que realmente é:
- O primeiro trailer foi lançado em outubro de 2017 com previsão de estreia em março de 2018, porém…;
- com a estreia de ‘Deadpool 2’ no mesmo ano, o longa foi adiado para fevereiro de 2019, porém…;
- a Fox foi comprada pela Disney deixando o destino do filme sem solução, afinal, a proposta de ser um filme de terror não combinava com o estúdio do Mickey, porém…;
- depois de tantas idas e vindas, a Disney, finalmente marcou a estreia para abril de 2020, porém…;
- havia uma pandemia no meio do caminho, gerando mais incertezas sobre o destino do filme, finalmente, chegando aos cinemas no mês de outubro.
Assim, com uma estreia fragmentada e a necessidade de ser lançado, “Os Novos Mutantes” ficou basicamente esquecido e longe de todo o hype criado em 2017. Para piorar, próximo a sua estreia nos cinemas, o diretor Josh Boone (conhecido por dirigir ‘A Culpa é das Estrelas’) fez uma afirmação racista durante entrevista sobre o personagem Mancha Solar, originalmente negro nos quadrinhos.
METADE INICIAL BOA, METADE FINAL DESASTROSA
Mais do que um filme de terror em si, “Os Novos Mutantes” busca apresentar um universo alternativo dos heróis, mostrando outros personagens dos quadrinhos Marvel. Na trama, a jovem Danielle Moonstar/Miragem (Blu Hunt) começa a ter visões enquanto lida com a morte de seu pai por uma ameaça desconhecida, assim, ela é acolhida por uma instalação responsável por cuidar de mutantes com problemas para controlar seus poderes. O local é dirigido pela médica Cecilia Reyes (Alice Braga), que já trata outros pacientes: a russa Illyana Rasputin/Magia (Anya Taylor-Joy), o brasileiro Roberto da Costa/Mancha Solar (Henry Zaga), a escocesa Rahne Sinclair/Lupina (Maisie Williams) e o caipira americano Sam Guthrie/Míssil (Charlie Heaton). A chegada de Moonstar começa a trazer os pesadelos de cada um para a realidade e, aos poucos, eles precisam superar as diferenças para encarar seus medos e vencer não somente o confinamento como a ameaça do Urso Místico.
Durante a primeira metade de “Os Novos Mutantes”, o roteiro consegue (com muito esforço) estabelecer boas narrativas para serem desenvolvidas. Os dramas dos personagens são de fácil identificação com os adolescentes, público-alvo do projeto, até pela forma como a história aborda a origem deles e a forma como se relacionam um com o outro. A narrativa linear adotada por Boone apoiada pela construção de uma vilã factível àquele universo e boas cenas de ação funciona ainda que baseada em clichês visuais típicos de filme de terror.
Pena que, do meio para o final, “Os Novos Mutantes” acaba por adotar saídas apressadas e fáceis. Exemplo disto é o romance entre Moonstar e Rahne, o qual começa com ares de novidade por se tratar de uma relação lésbica, mas, fica restrito posteriormente como justificativa para uma delas ser salva pela outra. Para piorar, percebe-se que os ajustes para o mundo Disney enfraqueceram demais a densidade da trama, afinal, todos os mutantes possuem histórias pesadas, incluindo assassinatos e assédios, mas, na hora de tocar nisso tudo soa podado e deixado nas entrelinhas até demais, fora a necessidade de se inserir uma sequência cômica ou de ação logo em seguida como tentativa de amenizar o clima. Por fim, o roteiro ainda relega as boas narrativas estabelecidas a reviravoltas frágeis e previsíveis, ou seja, nada de novo no universo mutante.
Em linhas gerais, ‘Novos Mutantes’ não apresenta nada tão ruim que o público já não tivesse visto em ‘X-Men: Fênix Negra’ ou ‘X-Men: Apocalipse’; seu grande azar foi todo o trâmite por detrás das telas para ser lançado. Afinal, depois de tantos adiamentos e o acúmulo de críticas negativas, se tornou bem pouco atrativo ir ao cinema durante uma pandemia para assistir um filme que promete tão pouco.