Antoine, o protagonista de Sobre Amigos, Amor e Vinho, é um cara que se cuida. Cinquentão, ele não fuma, bebe pouco, se alimenta direito e pratica exercícios. E também, ocasionalmente, tem seus casos com garotas com metade da sua idade – e tais casos são encerrados sempre que começam a ficar sérios. Ele também narra o filme para o público, e diz em certo ponto que está “de saco cheio” da sua vida e daqueles ao seu redor.

Até que, um dia, durante uma corrida, o inesperado acontece: Antoine sofre um pequeno ataque cardíaco, desmaia e passa um dia no hospital. Ao sair, será um novo homem: não quer mais trabalhar, volta a fumar, passa a comer coisas não muito saudáveis e, o mais importante, perde todas as inibições e papas na língua, e seus amigos e os dramas que eles compartilham passam a ser alvo dos seus ataques de sinceridade.

Essa é a premissa do filme do diretor Éric Lavaine, que até começa bem e divertido, mas depois se torna sem foco e se mostra entediante. É o típico filme que proporcionou muita diversão para o elenco – afinal, Antoine e seu grupo de amigos, a certa altura da história, vão passar férias num lugar lindíssimo, e estão sempre comendo bem, nos churrascos que pontuam a trama ou em bons restaurantes. Mas essa diversão, com o decorrer da projeção, não passa mais para o lado de cá da tela e o público começa a se sentir como se tivesse pagado ingresso para ver um bando de atores comendo.

O centro do filme é a atuação de Lambert Wilson como Antoine. Wilson, ainda hoje mais conhecido do público internacional pela participação no segundo e terceiro filmes da trilogia Matrix, é do tipo de ator camaleônico e sutil, capaz de fazer tanto drama quanto comédia. Seu trabalho em Sobre Amigos, Amor e Vinho é ótimo, a ponto de ele ser maior do que o filme ao seu redor. O Antoine de Wilson é uma figura divertida, empolgante e até mesmo imprevisível, e sempre que ele está em cena o filme consegue, pelo menos, arrancar alguns sorrisos do espectador.

É possível sentir a camaradagem entre o elenco e as interações dos demais personagens com Antoine conseguem ser divertidas, na primeira meia hora do filme. Porém, com o tempo, quando se percebe que o filme não trará qualquer conflito dramático – ou qualquer coisa que seja para manter o interesse do espectador – aquelas figuras começam a parecer cada vez mais cansativas. É difícil entender, por exemplo, porque a sem graça Olivia (Florence Foresti) desperta a amizade de Antoine e a obsessão de seu ex (Franck Dubosc). Ou porque o grupo de amigos consegue suportar o mala Laurent (Lionel Abelanski), cheio de problemas financeiros – aliás, o longa é tão sem foco que esses problemas são esquecidos apenas para serem resolvidos com uma linha de diálogo, apesar de parecerem, a princípio, que vão desempenhar papel importante na história.

Esse é o maior problema de Sobre Amigos, Amor e Vinho: falta-lhe foco e uma história mais substancial para dar suporte ao tom improvisado que a maior parte do filme possui. O filme possui qualidades: a fotografia é muito bonita e agradável, e a performance de Lambert Wilson, especialmente no início do longa, até consegue cativar e trazer um pouco de alma para o filme. Porém, logo se instaura um clima de novela do Manoel Carlos – ou seja, várias cenas com um bando de pessoas ricas e chatas e seus pseudoproblemas. Assim, o filme simpático do início dá lugar a uma sucessão de atores fazendo tipos, e no qual a sinceridade do protagonista é levada até o limite do exagero.

Com um pouco mais de substância e foco, Lambert Wilson poderia ter feito dessa história um filme melhor. Do jeito que está, o longa até julga a sinceridade do seu protagonista como algo excessivo e prejudicial. Antoine deveria ser sincero com o público também, e numa quebra da quarta parede, se dirigir à plateia e reconhecer que ele e seus amigos malas não valem um filme de uma hora e meia.