No mundo de “Succession”, bastam 24 horas para ir do apogeu ao declínio e vice-versa. Em “Kill List”, quinto episódio da derradeira temporada da série da HBO, presenciamos como os negócios da família Roy possuem dinâmicas capazes de alterarem totalmente o rumo das coisas. E não precisa de muito para tanto: basta estar no lugar certo na hora certa. 

Dois dias depois da morte de Logan (Brian Cox), a trupe da WayStar embarca rumo à Noruega para fechar o negócio com Lukas Matsson (Alexander Skarsgård). Kendall (Jeremy Strong) e Roman (Kieran Culkin) assumem a dianteira da transação e se dividem entre concluir assombrados por ser o desejo do pai e a vontade de seguir à frente dos negócios em um novo cenário sem o patriarca para dar os pitis típicos. Já Shiv (Sarah Snook) parece escanteada, em segundo plano. Só parece… 

MEIO LITRO DE SANGUE??? 

Mesmo sem ser o episódio mais brilhante desta temporada, “Kill List” brinda o público com aquela amada falta de noção típica dos milionários da série. Do lugar insólito em uma floresta gelada com a cabana que Roman intitula como o lugar onde o urso vai cagar passando pelos banquetes para ninguém, toda a situação sobre os bastidores do blockbuster até o comportamento maluco do anfitrião com direito a uma confissão de ter mandado vários “presentes” de 0,5 litro de sangue para a ex-namorada, “Succession” segue mostrando que, em meios aos dramas, é o humor o grande achado que diferencia a série.  

Aqui, não se pode também esquecer de Greg (Nicholas Braun), o qual reserva dois achados: a bizarra tentativa de formar o ‘esquadrão dos 4’ ao lado dos irmãos Roy e todo o papo sobre a crise francesa. 

COBRAS NO AVIÃO 

Como diz Hugo (Fisher Stevens, excelente) durante o voo de ida à Noruega, há “cobras no avião” (snakes on the plane). Nada mais certeiro do que esta frase, afinal, o jogo por baixo dos panos continua a todo vapor e Kendall espelha isso com o duelo acontecendo dentro da própria cabeça pela vontade de seguir no poder após conhecê-lo de forma plena sem o pai para intimidá-lo.  

Já Roman vive com o constante fantasma de Logan o assombrando, pois, sempre reforça que a conclusão do negócio era o desejo do magnata, mesmo que as condições para ele sejam boas em liderar a WayStar ao lado do personagem de Jeremy Strong. Nada demonstra mais este incômodo nesta batalha interna do que atacar de forma justa Matsson pela insensibilidade do momento da reunião, o que reforça a sensação de que a sociopatia exibida ao longo de toda série era uma fachada para esconder alguém, veja só, sensível.   

A dona da rodada, entretanto, não pode ser outra que não Shiv: quando tudo parecia ter ruído ao ver os irmãos no topo, a filha de Logan mostrou paciência e sabedoria para dar a volta por cima. E curiosamente o diretor Andrij Parekh cozinha muito bem esta construção ao mostrá-la sempre no fundo, sendo chamada depois de todos e ouvindo tudo atentamente de forma discreta. Somente na hora do bote, na ótima sequência com Matsson, que a personagem de Sarah Snook demonstra novamente a habilidade em compreender os contextos e fazer as leituras necessárias para virar o jogo. Não apenas consegue como salva de bandeja futuros aliados. 

“Kill List” não teve a intensidade de episódios anteriores da atual temporada de “Succession” e deixou uma ponta de saudade de Logan pela capacidade dele em ser aquele polo magnetizador. Ainda assim, o show de Sarah Snook (mais um!) e todas as possibilidades abertas na guerra dos irmãos aponta para uma reta final imperdível.