Depois de retratar a demência em “Meu Pai“, Florian Zeller agora se debruça sobre a depressão em “The Son” (O Filho, em português). O filme, exibido no Festival de Londres após estrear em Veneza, marca outra incursão do cineasta francês no ambiente familiar. Diferentemente de seu predecessor, este longa passa longe de ser material para o Oscar ao entregar uma trama morna e previsível.

A produção acompanha Peter (Hugh Jackman), cuja vida é abalada quando Nicholas (Zen McGrath), o filho de sua relação anterior, se muda para a casa que divide com a nova parceira Beth (Vanessa Kirby). Para piorar, o adolescente está em uma depressão com a qual seus pais não estão aptos para lidar. Aos poucos, verdades incômodas sobre as famílias envolvidas são expostas.

Zeller, repetindo a parceria com Christopher Hampton no roteiro e novamente adaptando uma de suas peças para a telona, constrói um longa baseado em elipses. Há tantos não-ditos e não-vistos na trama que cabe ao espectador montar as peças e descobrir as falas (e sentimentos) ausentes.

Como era de se esperar em um filme escrito por dois dramaturgos, o ponto forte da produção é a habilidade em que ela deixa os atores brilharem. “The Son” é cinema de performance por excelência e é notório o quanto o elenco eleva este material.

Isto é particularmente verdade no caso de Jackman, que entrega uma sólida performance como um pai perdido entre prioridades, e de Laura Dern, que interpreta sua ex-mulher Kate.  

BORRÃO NA MEMÓRIA

Na superfície, o que ocorre é um simples desencontro de visões. Peter acha que o filho está passando por uma fase ruim, enquanto Kate sabe que o problema, seja ele qual for, não vai embora tão cedo. Beth, como observadora externa, é a que tem a visão mais clara do problema, mas seus alertas falham em alterar o status quo.

Progressivamente, “The Son” vai explorando a profunda culpa que Peter sente pelo divórcio e pela horrível relação dele com o próprio pai. Ao fazer isso, ele estabelece trauma geracional como seu grande tema, mas também dá à história um tom piegas e reducionista que mina sua potência dramática.

Nicholas, em particular, é um coadjuvante no filme em que, em tese, é o personagem-título. Durante a maior parte dos longos 123 minutos de projeção, o filho é apenas uma peça movida na trama para revelar o remorso e incredulidade de seus pais. A decisão do roteiro de explicar sua doença com obviedades é um tiro no pé.

Quando o terceiro ato termina de uma forma que até o espectador mais desatento consegue prever na metade do filme, “The Son” já transformou as atuações que compõem seu cerne em um grande borrão na memória do público. Na apatia e monotonia de seu material-base, a depressão do filme não está em seu conteúdo, mas sim na experiência de assisti-lo.