Uma década antes de “Os Vingadores” ser concebido, ‘X-Men’ estreava como o primeiro grupo de super-heróis a ser visto nos cinemas nesta fase de ouro das HQs. Entre o ineditismo e tropeços, uma trajetória irregular foi construída e, 18 anos depois, as histórias sobre os mutantes chegam ao seu (segundo) capítulo final. O resultado, porém, não poderia ser mais desapontador: longe da grandiosidade esperada de sequências finais, “Fênix Negra” leva seu público para uma narrativa já apresentada dentro do universo criado pela Fox, sem força o suficiente para deixar os fãs com saudade dos mutantes.

Da mesma forma que em “O Confronto Final” (2006), “X-Men: Fênix Negra”, dirigido por Simon Kinberg, apresenta a transformação da mutante Jean Grey (Sophie Turner) na Fênix Negra, sua versão mais poderosa. Entretanto, enquanto o longa anterior ainda mostrava o dilema sobre os X-Men e sua aceitação na sociedade, o filme de 2019 abandona qualquer tipo de intenção mais engajada. Assim, a trama se limita à caça de Jean pelo grupo dos X-Men, ao mesmo tempo em que ela se envolve com Vuk (Jessica Chastain), líder da raça alienígena D’Bari, a qual pretende tomar o poder dela.

Todo esse argumento resulta em situações já conhecidas para os X-Men: a vontade do grupo em agradar o governo, a relação de frenemies entre Charles (James McAvoy) e Erick (Michael Fassbender) e o descontrole dos personagens.

TUDO ERRADO

Apesar de ter uma atuação satisfatória, Sophie Turner não consegue protagonizar “X-Men: Fênix Negra” com sucesso. Grande parte disto ocorre devido aos diálogos extremamente fracos e previsíveis, além das oportunidades que o roteiro desperdiça em desenvolver a personagem. Mesmo levando o título do filme, para todos os lugares que Jean vai, ela é manipulada por alguém e até seu ato final é realizado em detrimento dos X-Men, enquanto toda sua jornada por autodescoberta e controle se torna inexistente.

A partir deste tratamento relapso com a protagonista, os outros personagens também não escapam do roteiro negligente. A novata na franquia Jessica Chastain é a que mais sofre neste sentido: a apresentação rápida de sua raça justifica apenas seu objetivo momentâneo, sem explicar a origem ou habilidades. Jennifer Lawrence como Raven também é outro problema: surge no início prometendo bastante para a história e tem sua participação limitada ao primeiro ato do filme.

O descaso na direção de Simon Kinberg também é sentido em cenas de ação. Afinal, nem todo filme de super-herói possui um roteiro extremamente bem trabalhado, mas conseguem, pelo menos, satisfazer neste aspecto. No caso de Fênix Negra, as sequências de ação são extremamente superficiais: quando os mutantes atuam sozinhos é até interessante de assistir, mas, em duas ocasiões que vemos vários lutando ao mesmo tempo na intenção de deter Jean Grey, o longa se torna uma bagunça completa.

Tudo isto se encaminha para um final sem emoção e sem nenhuma alteração para o mundo dos X-Men. Afinal, qual o legado de Jean Grey além de uma placa na escola de mutantes? Todos alienígenas D’Bari foram exterminados? Charles e Erick irão aceitar a aposentadoria e se afastar dos problemas envolvendo sua raça?

Infinitas perguntas são deixadas pelo longa e, em tempos de um público cada vez mais crítico com desfechos (lembranças para os fãs de “Game of Thrones”), “X-Men: Fênix Negra” torna possível acreditar que é melhor um desfecho ruim para os personagens que desfecho nenhum.