Zana – O Filho da Mata” é o segundo curta-metragem de ficção da carreira de Augustto Gomes na direção. Selecionado para o Festival Olhar do Norte 2019, trata-se de uma produção capaz de acreditar na inteligência do público infantil e visualmente acima da média local, especialmente, nos figurinos e direção de arte. Mesmo sofrendo com falta de ritmo na parte final e uma montagem oscilante, o projeto mostra uma evolução do diretor em relação ao trabalho anterior.

Rodado com verbas do edital Manauscult/Ancine,  “Zana – O Filho da Mata” inicia quando Zana (Remi Sampaio) quase morre afogado após ser ameaçado pelo velho do saco Mamulengo (Gomes de Lima). Salvo por Andí (Aline Cassiano), espírito da Natureza, mãe dos animais e protetora das florestas, ele será encarregado de salvar crianças mantidas prisioneiras pelo Mamulengo e Irene (Lilian Machado). No meio do perigoso caminho, o protagonista se depara com a imprevisibilidade do Curupira (Irê Sampaio).

A primeira cena do filme – tomada ampla do Rio Amazonas no por-do-sol com uma trilha em tom crescente – já deixa claro uma das intenções de “Zana”: saudar a beleza da Amazônia e as riquezas naturais da região. Sob este aspecto, a produção consegue cumprir o objetivo à risca: o figurino de Andí, por exemplo, composto por galhos de árvores, feito pela dupla Oberdan Nogueira e Erica Contente, consegue não apenas ser bonito, mas, também realça a grandeza da personagem nesta harmonia do humano com o natural (aliás, pena não a vermos de corpo inteiro para visualizar o traje por completo). Já a riqueza de detalhes trazida na direção de arte de Dionísio Alves, seja nas folhas pintadas no momento em que Zana acorda até o ambiente da armadilha do curupira e a casa de madeira onde vive Mamulengo e Irene, permite ao espectador mergulhar sem qualquer restrição na realidade fantástica daquele universo.

INFANTIL COM INTELIGÊNCIA

Nesta construção, é louvável pela parte de Augustto Gomes conseguir contar uma história infantil sem tratar o público-alvo de forma boba. Os personagens são trabalhados pelo roteiro e elenco sem afetação. Desta maneira, acreditamos nos perigos em que as figuras em cenas estão envolvidas pela maneira com que os adultos tratam os menores. A forma pacata e delicada como Mamulengo aborda o jovem sentado na árvore é o melhor exemplo disso até mesmo por ser algo não muito diferente da realidade, servindo, aliás, como alerta para crianças e pais.

Por tudo isso, é uma pena “Zana – O Filho da Mata” não conseguir manter um ritmo capaz de segurar os 15 minutos de duração. O excesso de personagens em cena (chegam a ser quatro crianças aprisionadas pelo Mamulengo em determinado momento) faz com que a trama não dê atenção a todos. Acompanhamos a aventura de Zana sem entender quem é aquele menino pela ausência de momentos intimistas, tirando o envolvimento emocional do espectador. Isso acaba por prejudicar o desenvolvimento do Curupira como alívio cômico desejado pela trama.  O vilão só não vai pelo mesmo caminho devido à construção longe de estereótipos feita pelo ótimo desempenho de Gomes de Lima. Além disso, a montagem também não contribui muito para acelerar a história e dar o ritmo de tensão necessária à parte final, tornando o desfecho da trama quase um anti-clímax.

Na inevitável comparação com o curta de temática semelhante, “Se Não..”, o novo projeto de Augustto Gomes não atinge o mesmo nível de aliar a criatividade técnica com uma narrativa fluída da ótima produção comandada por Moacyr Freitas. Por outro lado, “Zana – O Filho da Mata” mostra um avanço importante e inegável do diretor após o irregular “Leco“, além de ser sempre louvável oferecer ao público infantil obras capazes de tratá-las como seres pensantes.